PM Eng. Carlos Correia
O
primeiro-ministro da Guiné-Bissau, Carlos Correia, afirmou hoje que "existem
manobras para interromper o desenvolvimento" do país.
O
chefe do Governo falava na qualidade de primeiro vice-presidente do PAIGC nas
cerimónias realizadas em Morés, norte do país, para assinalar o 53.º
aniversário do início da luta armada pela independência.
O
histórico dirigente, 81 anos, acrescentou que "as manobras irão
falhar", porque, frisou, "o povo não irá deixar".
"Tentaram
a mesma manobra em agosto e não conseguiram. Não desistiram e estão a tentar de
novo, mas vão falhar porque o nosso povo não irá deixar", defendeu, usando
um boné do Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC).
Correia
presidiu hoje às cerimónias em que deveriam estar o Presidente guineense, José
Mário Vaz, e o ex-primeiro-ministro, Domingos Simões Pereira, líder do PAIGC,
mas nenhum deles compareceu.
O
Governo responsabilizou esta semana o chefe de Estado pela crise política no
país desde que em agosto demitiu o executivo dirigido por Simões Pereira.
Carlos
Correia disse estarem em curso trabalhos "para mostrar ao povo quem são os
verdadeiros corruptos" na Guiné-Bissau, numa referência a vários processos
de inquéritos às contas públicas mandadas fazer pelo Governo e pelo Parlamento.
"O
povo tem que saber quem são os corruptos", defendeu Carlos Correia, num
tom de voz exaltado que não lhe é habitual, sendo conhecido pela sua forma
branda de falar.
O
responsável político disse que se os governos do PAIGC não têm conseguido
desenvolver o país desde a independência, há 42 anos, tal deve-se a
"crises e entraves fabricados" por pessoas que não identificou.
Convidada
de honra para as celebrações, Ana Mária Cabral, viúva de Amílcar Cabral, fundador
do movimento independentista, lamentou que a Guiné-Bissau "continue a ter
dificuldades para avançar".
A
viúva apelou hoje aos guineenses, veteranos e atuais dirigentes, para
"convergirem nos ideais da luta pela independência" que, disse,
visavam a melhoria das condições de vida da população.
A
população de Morés aproveitou a ocasião para mostrar aos jornalistas e
dirigentes do partido que a vila "não tem nada": falta um hospital,
não há escolas, estradas, nem água canalizada desde que o país declarou a
independência em 1973, disseram.
"Morés
foi o centro da guerra da independência. Nós é que demos o corpo à luta para
que pudesse ter o êxito que teve, mas hoje não temos mesmo nada", afirmou
à Lusa o veterano Sende Bodjan, merecendo a concordância de mais de 20 antigos
combatentes em redor.
Durante
os primeiros anos de independência, Morés ainda teve a funcionar um internato
que albergava sobretudo jovens cujos pais morreram na guerra, mas com o advento
da liberalização económica e política nos anos 90, a escola fechou as portas.
O
internato de Morés era o centro nevrálgico da vila e com o seu encerramento
"a vida desapareceu", explicou o jovem Bocar Seidi, 34 anos, mas que
já se assume como velho.
Velho
e decrépito é o panorama que Morés hoje ostenta, ainda que conserve sinais do
passado e das infraestruturas sociais que detinha.
As
casas parecem não ser pintadas há décadas, os acessos são caminhos de pó, o
hospital, contam os habitantes, tem as portas encerradas "quase
sempre" e o mercado local, a céu aberto, quase não tem nada.
Morés
"já não é o que era", enfatiza o "velho" Bocar Seidi, que
guiou a Lusa numa rápida visita à vila, momentos antes das cerimónias oficiais
do 23 de janeiro, que tiveram como ponto alto a condecoração de 21 veteranos de
guerra com a medalha Amílcar Cabral.
A
distinção, a ser continuada durante todo o ano de 2016, é da direção do PAIGC.
Fonte: Lusa
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