A Verdade Inconveniente Do Milénio,
Por: Jamel Handem
Por: Jamel Handem
Pergunto-me
porquê que os guineenses estão sempre a lamentar-se da situação da nossa
querida Guiné? Os dirigentes que temos merecê-mo-los porquanto nós é que os
escolhemos. Para quê tanto teatro e lamurias se nas próximas eleições vamos
votar outra vez para os mesmos nos governarem e assim será pelo menos nos
próximos 50 anos? Para quê fingir se na verdade é assim que nos convém que a
Guiné continue, vá-se-lá saber para que proveitos?
Querer mudar com a mesma mentalidade é como empurrar um barco encalhado algures no canal do Geba. Deixemos
de fintas e papo furado e sejamos realistas: é assim que gostamos de estar, sem
controlo, sem responsabilidade e no "desenrasca quem pôde".
Se
algo tem que mudar, esse algo somos nós mesmos, os dirigentes esses são
produtos daquilo que criamos por nossas conveniências e interesses e para
termos sobre quem atirar as culpas. Já repararam que nós nunca somos culpados
de nada? Somos todos inocentes e vítimas. As desgraças que caem sobre nós vêm
sempre de uma terceira pessoa ou entidade?
Enxergue-mo-nos
e reconheçamos que se a Guiné está atrasada, se tem maus líderes é da nossa
cumplicidade e responsabilidade individual e colectiva. Aceitemos pelo menos
esta verdade para começarmos a mudar alguma coisa: NÓS MESMOS, EU PRÓPRIO
(N'DJI PROPI)!
Tenho dito.
Um contraditório:
Senhor Jamel Handem,
Nunca deixei
de prestar e preservar respeito a qualquer opinião contrária à minha ou às minhas. Consequentemente esse princípio prevalece em
resposta ao presente artigo do amigo Jamel Handem, que pretence a uma respeitada
e sobejamente conhecida família. Abraços n’pagâi
aos muitos Handem(s) amigos. E não são poucos!
Caro Jamel,
Não estarei
tão seguro de que a minha opinião sobre o seu, perdão, sobre o teu artigo se
situe como um formal e irreversível desacordo. Sinto-me bem mais inclinado em dizer que as nossas
opiniões sobre esse sujeito apenas não se justapõem, sem muito se contrariarem.
Também a possibilidade de nossas leituras partirem de premissas
diferentes.
Entretanto, dispamo-nos
de todas as emoções e regressemos ao ponto de partida: 1974…
Que
alternativa foi dada ao povo guineense depois do 25.04.1974 senão aceitar
incondicionalmente o PAIGC?! E ao levantar essa descomplexada questão julgo-me
no pleno direito de perguntar aos que
ainda se lembram: qual o destino que foi dado a todos quantos ousaram
activa ou passivamente opôr-se à Força,
Luz e Guia do Nosso Povo na Guiné e Cabo-Verde orquestrada pelos ‘Melhores
Filhos Da Nossa Terra’?!...
Será portanto necessária alguma ingenuidade para que
não se reconheça que desde a estaca zero
o povo guineense se sente desprovido de uma ÚNICA alternativa senão a de ir
dizendo ‘amém’, como forma de salvaguarda da sobrevivência colectiva. Continuemos.
Já bem antes
do periodo da descolonização o Eng° Amilcar Lopes Cabral o arquitecto do PAIGC,
deixava bem claro que nem todos os militantes reuniam condições para virem a
ter responsabilidades (mandar…) em Bissau. Entretanto, todos quantos ainda
estão entre nós sabem que essa premissa já era letra morta mesmo antes do içar
da bandeira nacional.
Bissau
transformou-se num verdadeiro espólio de guerra do PAIGC sem Cabral….
Já no tempo
da luta, e os mais idosos (da luta..) ainda se devem lembrar caso não se façam
rogados…haver um militante cabo-verdiano do PAIGC, ainda vivo e hoje em
Cabo-Verde que chegou a afirmar: somos um povo feliz porque já temos quem pense
por nós, referindo-se a Amilcar Cabral. Que cada um retire a ilacção que lhe
aprouver!... A fé no PAIGC era tão grande que ainda me recordo de uma eleição
presidencial com candidato único no qual esse candidato foi eleito com a
MODESTA margem de 98%. Eram essas as
alternativas dadas ao povo guineense nesse histórico
periodo do pós independência.
Não será portanto de uma enorme ligeireza considerar que ao longo da sua
existência enquanto povo, o cidadão
bissau-guineense sempre dispôs de alternativas às quais poderia
aderir livremente e sem o espectro de nefastas e imprevisíveis consequências?!
Tenhamos a coragem de
responder com a face erguida…
Os partidos políticos sempre foram um instrumento de acesso ao Poder e a GBissau não
constitui excepção. Porém onde se torna excepção é no que diz respeito à
exigência quanto ao perfil dos militantes sobretudo no que diz respeito à
integridade moral e cívica dos candidatos a lugares cimeiros do aparelho de
Estado.
Os partidos políticos são obviamente os primeiros responsáveis por essa
selecção. E quando essa selecção é ditada por parâmetros alheios à dignidade do
militante candidato, à sua competência, à sua hombridade, à sua integridade e
outros valores universalmente reconhecidos…então: seja qual for o escrutínio, a
probabilidade de nomear um eleito que responda às legítimas aspirações do eleitorado
se tornam ínfimas e consequentemente decepcionantes.
Tudo repousa
nos partidos e na forma como definem seus objectivos e sobretudo na escolha dos
seus mais altos dignitários. E ao povo através dos meios de que dispõe e dos
meios que possa ainda criar de forma a pressionar os partidos para que elevem a
qualidade e a idoneidade dos seus candidatos a lugares públicos. Que os
melhores filhos da nossa terra sejam avaliados por parâmetros diametralmente opostos dos que vêm
sendo de há quatro décadas utilizados como unidade de medida…
Kaminhu lundju inda!
Resposta do Jamel Handem
Resposta do Jamel Handem
Li
e compreendo a tua posição de que ao "cidadão guineense não foi dado a
possibilidade de livre escolha" e a verdade é que até hoje os votos do
eleitor-cidadão são manipulados para manter os mesmos no "poder". É
aí que entra a minha "indignação"!?
Se fomos capazes de levantar
contra o "jugo colonial" e por sinal considerado dos mais
retrógrados, porquê que aceitamos esta submissão sabendo todos nós que somos
enganados, roubados, arbitrados, espancados, torturados e até mortos todos os
dias por essa mesma gente que se auto-denominam de "libertadores".
Quando foi a independência eu tinha cerca de 17 anos de idade e até hoje não
conheci liberdade nenhuma "politicamente falando", fui enganado com o
"slogan" do "Homem Novo" e acreditei que a Guiné seria um
dia a Suiça da África.
Hoje, acordo e vejo um país amordaçado e sem
perspectivas. Tornei-me num pessimista em relação ao meu país e ao futuro e a
verdade é que não consigo libertar-me deste pesadelo. Possivelmente e aceito
que posso estar completamente errado, mas é assim que vejo tudo a minha volta.
Obrigado pela atenção meu sábio irmão e lutador incansável.
Obrigado pela atenção meu sábio irmão e lutador incansável.
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