terça-feira, 1 de agosto de 2017

AINDA SOBRE O 'ÊXODO URBANO'

Tinha concluído os trabalhos desde altura da exaustiva, chuvosa, gélida e poluícenta capital colombiana, Bogotá. No entanto, era momento de usufruir beneméritos dias de descanso noutras paragens. Se for possível, que seja longe de vista dos bogotanos e das suas montanhas!

Na roleta, apresentam vários destinos à disposição da equipa, um por escolher.

- Desafiaram-me com o peso e responsabilidade na gestão da escolha. Em contrapartida agarrei o desafio como uma oportunidade a não perder.

- Desde eterna infância ouvia falar de Cuba, quiçá desde os tempos da escola primária, aliás, à margem da sua ligação histórica com a Guiné-Bissau, o destino vinha deparar-me outras ligações com nacionais desse país.

Assim que estava tudo ensaiado ao frio, ou seja, não havia como não optar por Cuba. Chegado à Havana por volta das 23h00 local, num voo procedente de Panamá, a equipa dirigiu-se para um hotel situado no conhecido bairro de Vedado.

No dia seguinte, eu e o meu amigo, Michel, optamos passarmo-nos por cubanos mesmo com a perceção de que a ideia nos teria obrigado à resignarmos de alguns confortos que a ilha oferece aos visitantes; nomeadamente, alojamento nos hotéis ou comer nos restaurantes reservados aos turistas.

Dois dias depois, graças à benevolência da hospitalidade cubana, fomos recebidos por um jovem casal no bairro da Velha-Havana, onde passamos a residir, isso sim, as despesas tinham que ser por conta própria.

A ideia era estabelecer contacto direto com os autóctones assim contemplar, in situ, a realidade que outros estão desprovidos de contar. Para além do duro sacrifício que a família cubana enfrenta dia-a-dia no exercício da sobrevivência, registamos com muita estupefação o controle que o castrismo exerce sobre os jovens provenientes do interior do país.

Nas orlas de Malecón, zona muito concorrida para os que querem refrescar-se com a maresia do Caribe, e algures de renome da Havana, verificam-se várias ações policiais (atos que os cubanos encaram com naturalidade) donde os agentes abordam e detêm jovens oriundos de Oriente do país, com o pretexto de estes estarem a incomodar os turistas, no entanto, são detidos para que no dia seguinte fossem expulsos da capital como se de estrangeiros ilegais, tratassem.

Infelizmente, são práticas que vimos forçados a digerir em silêncio, enquanto estivemos lá, mas sempre convictos de que aquele era único lugar do mundo donde a prática de expulsão interna é encarada com normalidade.

Entretanto, a narrativa fala de Cuba, um país submerso há mais de meio-século no auge da ditadura Comunista, um país onde todos são obrigados a aceitar tudo, isto é, para quem não quer acabar o dia num cativeiro.

Imaginem aquela medida posta em marcha noutras paragens, donde assimiladamente o sistema enquadra-se, minimamente, com os padrões estabelecidos democraticamente, em termos constitucionais, ou donde uma boa parte da sociedade pondera dar peito às balas para restaurar os valores conquistados, como o caso da Guiné-Bissau… Sinceramente, não se pode imaginar um cenário similar nestes horizontes.

Paradoxalmente, a Guiné-Bissau não é Cuba ou algo parecido, e o Presidente José Mário Vaz não é, e jamais será àquilo que foi o Comandante Fidel Castro, nem outro, dirigente cubano.

Porém, o mais torpe, o mais arrogante, o pior Presidentes de todos os tempos da República da Guiné-Bissau, veio ao terreiro com um infeliz desafio aos jovens do interior solicitando que voltassem as tabancas e a lavoura, sob pena, de não perderem as suas terras a favor dos estrangeiros, e remata com lamentações daquilo que chama de “êxodo urbano”.

Essas declarações não se limitam por revelar o quão o indiciado Chefe de Estado pondera amassar aos calcanhares dos que pior conseguem caminhar, também deu tiro no próprio pé.

Quiçá, quem não sabe ou não se lembra de onde veio e aonde vai é o Sr. Presidente. E, se porventura, sua excelência vier decretar (já que gosta de Decretos) leis que expulsa os cidadãos para o interior do país, como caso de Cuba, espera-se que o interior da Guiné-Bissau reúna, pelo menos, mínimas condições como àquelas que o regime cubano fez na Ilha.
Assim os jovens do interior ter-se-ão o prazer de abandonar à poeirenta, desarrumada capital chamada Bissau.

Caso contrário, o caçador pode tornar-se vítima das suas próprias armadilhas, porque esses jovens acabaram por recordar ao Sr. Presidente de onde veio, e por conseguinte indicar lhe o caminho por aonde deve ir.

Contudo, não é porque alguém está contra agricultura – particularmente sou filho de pais agricultores, o meu pai viveu digno e dignificou tudo o que esteve a sua volta com essa atividade - morreu com dignidade, não teve edifícios similares àqueles onde funcionam Agência Lusa, Casa Escada ou Orabank entre outros, também nunca foi indiciado por ter desviado dinheiro doado por outro país – o que lhe dará direito de descansar em paz na Glória de Deus.

Nota: Edição Smartphone

Sem comentários:

Enviar um comentário