Tinha concluído os
trabalhos desde altura da exaustiva, chuvosa, gélida e poluícenta capital
colombiana, Bogotá. No entanto, era momento de usufruir beneméritos dias de
descanso noutras paragens. Se for possível, que seja longe de vista dos
bogotanos e das suas montanhas!
Na roleta,
apresentam vários destinos à disposição da equipa, um por escolher.
- Desafiaram-me com
o peso e responsabilidade na gestão da escolha. Em contrapartida agarrei o
desafio como uma oportunidade a não perder.
- Desde eterna
infância ouvia falar de Cuba, quiçá desde os tempos da escola primária, aliás,
à margem da sua ligação histórica com a Guiné-Bissau, o destino vinha
deparar-me outras ligações com nacionais desse país.
Assim que estava
tudo ensaiado ao frio, ou seja, não havia como não optar por Cuba. Chegado à Havana por
volta das 23h00 local, num voo procedente de Panamá, a equipa dirigiu-se para
um hotel situado no conhecido bairro de Vedado.
No dia seguinte, eu
e o meu amigo, Michel, optamos passarmo-nos por cubanos mesmo com a perceção de
que a ideia nos teria obrigado à resignarmos de alguns confortos que a ilha
oferece aos visitantes; nomeadamente, alojamento nos hotéis ou comer nos
restaurantes reservados aos turistas.
Dois dias depois,
graças à benevolência da hospitalidade cubana, fomos recebidos por um jovem
casal no bairro da Velha-Havana, onde passamos a residir, isso sim, as despesas
tinham que ser por conta própria.
A ideia era
estabelecer contacto direto com os autóctones assim contemplar, in
situ, a realidade que outros estão desprovidos de contar. Para além do duro
sacrifício que a família cubana enfrenta dia-a-dia no exercício da
sobrevivência, registamos com muita estupefação o controle que o castrismo
exerce sobre os jovens provenientes do interior do país.
Nas orlas de
Malecón, zona muito concorrida para os que querem refrescar-se com a maresia do
Caribe, e algures de renome da Havana, verificam-se várias ações policiais (atos
que os cubanos encaram com naturalidade) donde os agentes abordam e
detêm jovens oriundos de Oriente do país, com o pretexto de estes estarem a
incomodar os turistas, no entanto, são detidos para que no dia seguinte fossem
expulsos da capital como se de estrangeiros ilegais, tratassem.
Infelizmente, são
práticas que vimos forçados a digerir em silêncio, enquanto estivemos lá, mas
sempre convictos de que aquele era único lugar do mundo donde a prática de
expulsão interna é encarada com normalidade.
Entretanto, a
narrativa fala de Cuba, um país submerso há mais de meio-século no auge da
ditadura Comunista, um país onde todos são obrigados a aceitar tudo, isto é,
para quem não quer acabar o dia num cativeiro.
Imaginem aquela
medida posta em marcha noutras paragens, donde assimiladamente o sistema
enquadra-se, minimamente, com os padrões estabelecidos democraticamente, em
termos constitucionais, ou donde uma boa parte da sociedade pondera dar peito
às balas para restaurar os valores conquistados, como o caso da Guiné-Bissau…
Sinceramente, não se pode imaginar um cenário similar nestes horizontes.
Paradoxalmente, a
Guiné-Bissau não é Cuba ou algo parecido, e o Presidente José Mário Vaz não é,
e jamais será àquilo que foi o Comandante Fidel Castro, nem outro, dirigente
cubano.
Porém, o mais torpe,
o mais arrogante, o pior Presidentes de todos os tempos da República da
Guiné-Bissau, veio ao terreiro com um infeliz desafio aos jovens do interior
solicitando que voltassem as tabancas e a lavoura, sob pena, de não perderem as
suas terras a favor dos estrangeiros, e remata com lamentações daquilo que
chama de “êxodo urbano”.
Essas declarações
não se limitam por revelar o quão o indiciado Chefe de Estado pondera amassar aos calcanhares dos que pior
conseguem caminhar, também deu tiro no próprio pé.
Quiçá, quem não sabe
ou não se lembra de onde veio e aonde vai é o Sr. Presidente. E, se porventura,
sua excelência vier decretar (já que gosta de Decretos) leis que expulsa os
cidadãos para o interior do país, como caso de Cuba, espera-se que o interior
da Guiné-Bissau reúna, pelo menos, mínimas condições como àquelas que o regime
cubano fez na Ilha.
Assim os jovens do
interior ter-se-ão o prazer de abandonar à poeirenta, desarrumada capital
chamada Bissau.
Caso contrário, o
caçador pode tornar-se vítima das suas próprias armadilhas, porque esses jovens
acabaram por recordar ao Sr. Presidente de onde veio, e por conseguinte indicar
lhe o caminho por aonde deve ir.
Contudo, não é
porque alguém está contra agricultura – particularmente sou filho de pais
agricultores, o meu pai viveu digno e dignificou tudo o que esteve a sua volta
com essa atividade - morreu com dignidade, não teve edifícios similares àqueles
onde funcionam Agência Lusa, Casa Escada ou Orabank entre outros, também nunca foi indiciado
por ter desviado dinheiro doado por outro país – o que lhe dará direito de
descansar em paz na Glória de Deus.
Nota: Edição
Smartphone
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