É
preciso coragem para viver neste país, um cantinho da África onde excepto a
coragem e a boa vontade da sua gente, falta tudo. O guineense é corajoso, cheio
de boa vontade; tem um coração grande o que faz dele um caso à parte no
continente africano onde proliferam conflitos; onde em muitas zonas ainda se
vive como na pré-história e a doença e a morte são tão naturais como o ar que
se respira.
Depois
do colonialismo bárbaro com todas as suas especificidades, que deixou os dominados em condições de triste memória,
podem ser contados pelos dedos das mãos aqueles que conseguiram escapar desses
tentáculos, organizar-se minimamente, ensaiar os passos em direcção ao
progresso e desenvolvimento.
No
caso da Guiné-Bissau, pode-se dizer, sem incorrer em exageros, que tudo vai
mal. Depois da luta que se gaba de ter sido “brilhante”, “heróica”, “exemplar”,
a independência que sucedeu, até aqui não se reflectiu grandemente na vida dos
guineenses. Falta tudo, e, para agravar, nem a tranquilidade pode ser garantida
aos que, por uma ou outra circunstância feliz ludibriaram a morte.
Os que
lutaram pela independência hoje são meras lembranças de gente que, por
acreditarem num futuro promissor, um dia de descanso empenharam as suas vidas
pela causa da libertação da Guiné do jugo colonial fascista. Hoje em dia, vão
desaparecendo um a um sem a satisfação do sonho realizado tirando, quiçá, a
participação na conquista da independência nacional. Mas, quarenta anos depois,
a independência marca passo.
Nada avança por obra e graça daqueles que eram
supostamente os melhores filhos desta terra. Se os melhores são nivelados pelos
padrões que catapultou os que têm dirigido o país até aqui, então, como será
com os que não se enquadram nesses parâmetros?
Por
mais triste que seja, há que reconhecer que o novo mundo é orientado por novas
formas enquadradas por novas fórmulas de colonização. O país não sai do círculo
vicioso porque não consegue sacudir, organizar, gerir as coisas em função da
sua realidade, sem passar pelo uso de receitas produzidas em laboratórios
sofisticados, longe do nosso meio, sem ter em conta se de facto o que propõem
servem na perfeição ou não, não tão pouco se é esse o querer do povo.
Resultado: A sociedade está dividida em espertos, tolos e miseráveis, com os
primeiros a não se entenderem e por via disso estarem em permanentes conflitos
de interesses que têm gerado crises e mais crises para nossa tristeza e
desventura.
Dentro
dessa redoma, construída por instituições financeiras com máquinas de pressão
bem lubrificadas, lá vamos nós cantando e rindo e sonhando com nova vida, um
futuro melhor, sob a batuta de maestros canhestros cuja projecção do futuro
começa no estômago e termina no umbigo. Para completar o cenário trajam
smokings brilhantes e ostentam a célebre faixa REPRESENTANTE DO POVO.
EDITORIAL
Gazeta de Notícias edição de terça-feira dia 06/09/2016
Por:
Humberto
Monteiro
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