Já foram 42 anos da proclamação
solene, unilateral, da independência na densa floresta da esquecida Madina de
Boé. 24 de Setembro de 1973, dia da materialização de um sonho que custou milhares
de vidas num pequeno território que quis recuperar a dignidade perdida, roubada
pelos homens de armas de fogo, há cinco séculos. A trajectória que conduziu à
luz da libertação foi longa, dura, pesada e traiçoeira! Muitos combatentes da
liberdade tombaram na difícil andança. Não viram o país, o Estado independente,
para qual consentiram o sacrifício supremo. O capitão de navio, Cabral, e
tantos outros companheiros anónimos, não assistiram a almejada “primavera”. Os
sobreviventes, além das expectativas, continuam a assistir a dura realidade de
um sonho adiado.
O povo orgulhoso e abnegado da Guiné
lutou para ser livre e independente. Esta foi a razão da luta armada e o
segredo da vitória contra o regime fascista. O ideal fora consumido e aceite
até a última aldeia. O povo camponês entendera a mensagem e não hesitara a
desafiar com corpo e alma o poder do fogo repressivo do inimigo colonizador. A
luta na Guiné visou sem dúvida uma independência total, sinónima da
autodeterminação do povo guineense face aos outros povos de mundo. Em suma, com
a libertação este povo quis tornar-se dono do seu próprio destino.
Quatro décadas depois, custa
constatar o total fracasso, senão o falhanço do projecto libertador. A gestão
do Estado ao longo da caminhada foi tudo menos “responsável”. Discursos vazios,
intrigas, desorganização, disputas pelo protagonismo, dilapidação de recursos
públicos, são “vícios assassinos” do sonho nascido em Boé. O quotidiano do
Guineense hoje continua a ser caracterizado por uma dependência absoluta. O
nosso querido país tornou-se um autêntico mercado onde se consome tudo de boca
cheia e fechada! Importa-se tudo, até doença dissimulada em medicamentos
falsos, produtos alimentícios fora de prazo na total indiferença de quem é
confiada a autoridade de administrar em nome e interesse do povo, ensino fraco,
sistema de saúde débil.
A classe dirigente oportunista perdeu
completamente com o rumo. Ausência de boas referências associada à
incompetência institucionalizada, ao anti meritocracia, conduziu a pátria de
Cabral a uma perversão incrível de valores. O resultado desta inércia colectiva
é de um país dependente, um Estado moribundo, uma classe política falida, um
povo embora vítima do vírus do analfabetismo guarda o orgulho e a esperança de
“primavera” que fará ressuscitar o sonho de uma verdadeira independência.
Por: odemocratagb.com
Nota
do Editor
Há 20 dias atrás, neste mesmo espaço
escrevi isto:
"Saindo um pouco das águas da emoção do
momento, nota-se que estamos perante mais um, dos mesmos problemas políticos
que retratam, os últimos 42 anos da Guiné “independente”. Acreditando que na
próxima semana, o país deixará de ser refém da classe política, apetece
perguntar:
Será que neste andar, a data da independência será
comemorada na desgovernança? in "O país está de férias…" 05/09/15
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