João Vaz (1923-2016)
Um patriota, nacionalista e
amante da sua terra natal, Guiné-Bissau, de 92 anos, sucumbiu sob a terra leve,
em Bissau, no dia 21 de fevereiro de 2016, aonde sempre quis morrer.
O ilustre Sr. João Vaz nasceu em
Bissau, a 24 de Novembro de 1923. Filho de António Domingos Vaz e de Francisca
Gomes Alves, viveu em Bissau e Bolama, aonde neste último passa a sua infância
e adolescência, concluindo em 1936, a 4ª Classe, o então chamado 2º Grau.
Originário de uma família humilde,
com cruzamentos étnicos entre, Beafada, Cassanga e Pepel, atendendo que na
ocasião o regime colonial português não oferecia aos jovens guineenses
alternativas de formação escolar, cedo, apenas com 19 anos de idade, seria
obrigado a trabalhar com o pai na Oficinas das Alfaiatarias do Quartel da
Amura. Com a morte do pai em 1944, devido a sua capacidade profissional
demonstrada, seria convidado a substitui-lo como Chefe das Oficinas.
Ávido de aprender, com a abertura
do Colégio Liceu, de iniciativa semioficial (sito no edifício da atual Direção-geral
da Cultura), nos anos 50, foi um dos primeiros alunos a frequentar as
explicações do Curso Liceal.
A 5 de Maio de 1951 casa-se com a
jovem enfermeira/parteira bolamense, Perpetua Rosa Monteiro e Silva Vaz,
companheira de toda a sua vida, que lhe ajudou a educar oito filhos.
Aposta na educação dos seus
filhos, sonhando poder inverter a discriminação colonial, que vedava o acesso
aos jovens guineenses de poderem desempenhar cargos de relevo no Banco
Ultramarino e nas Alfandegas de Bissau.
Com o despertar político na
Província da Guiné nos anos 40/50, viria a fazer parte dos movimentos
nacionalistas dos jovens guineenses de então, que ambicionavam ver um dia a sua
terra libertada do jugo colonial. Conviveu com João da Silva Rosa, José
Ferreira de Lacerda, Domingos de Pina Araújo, Vicente Có, Godefredo Vermão de
Sousa que fundaram o MLG – Movimento de Libertação da Guiné, em que mais tarde
aderia conjuntamente com nomes como Francisco Gomes, Rafael Barbosa, Elisé
William Turpin, António Fernandes (Douglas), Epitánio de Souto Amado, Quintino
Nosolini, entre outros demais companheiros.
Também, com o aparecimento do PAI
– Partido Africano para a Independência, de Amílcar Lopes Cabral, faria parte
das reuniões clandestinas em prol do processo de consciencialização política da
necessidade de se objectivar a independência.
A propósito de Amílcar Lopes
Cabral escreveu em seu manuscrito “Memórias e Testemunho de uma Vida e de um
Percurso Colectivo na Guiné-Bissau”, que aguarda publicação: “pessoa de elevada
reputação técnica, cultural e política, identificado com os ventos da mudança
mundial, que tinha vivido as experiências antifascistas e anticolonialistas
enquanto estudante em Portugal, transportador de uma visão, de uma formação e
de capacidade política adicionais firmes e consolidadas sobre a estratégia e
via para prossecução da independência, para além de ser pessoa de trato fino,
cativante e claro, onde a sua inteligência e elevada clarividência contagiava
todos quantos tiveram oportunidade de com ele privar.”
Enquanto funcionário público da
administração colonial nos anos 60, usufruindo de licença graciosa conhece
Portugal. Tal como muitos dos nacionalistas
jovens guineense veria a ser preso em 1965, pela polícia política de então, a
PIDE, em sua residência no Tchom di Pepel, sendo deportado para o cativeiro do
Campo de Concentração no deserto de Moçâmedes (hoje Namibe), em Angola.
Com a sua libertação durante o
regime do Governador Spínola, defensor da política de Guiné-Melhor, que
demagogicamente pretendia tirar dividendos políticos, com fins propagandísticos
anti-PAIGC, procurando comprometer os nacionalistas guineenses, programa a sua
fuga para Portugal com a sua família.
Aí chega a frequentar um curso
liceal intensivo para adultos com objetivo de efetuar exame de admissão na
Universidade. Estuda língua francesa na Alience Française e linguagem Cobol de
informática.
Um defensor dos Direitos Humanos,
da dignidade Humana e dos valores democráticos, após a independência nacional,
ergue-se contra o regime do Partido Único instaurado no seu país, que tanto
amou. Com um grupo de patriotas guineenses residentes em Portugal, Dr. Viriato
Pã, Dr. Pedro Jandy, Sr. António Mendes Fernandes Douglas, Luís Fernandes (Dumdum),
funda a OANG – Organização Anti-Neocolonialista da Guiné.
Em 1989, com as mudanças
económicas e políticas em vigor no país, com o convite do ex-presidente Nino
Vieira, mentor da política da reconciliação nacional regressa ao país.
Como um trabalhador incansável e empreendedor, com intuito de contribuir para o desenvolvimento e para a melhoria da dieta alimentar da população, funda o aviário SICOGETUR Lda.
Toma parte ativa na vida social e industrial da sociedade guineense, quer como Presidente da Mesa de Assembleia da Escola Portuguesa e Presidente da Associação Industrial de Brá.
Sonhador com o desenvolvimento do
seu país, mobiliza fundos que coloca ao serviço da indústria guineense. Foi dirigente do Clube desportivo
UDIB – União Desportiva Internacional de Bissau, e jogador da mesma equipa de
futebol.
Por: Carlos Vaz
Nota do Editor
Como
é sempre difícil de falar de Grandes Homens. Li e estarei ávido para ler mais
sobre este ilustre guineense, João Vaz, como promete o filho Carlos Vaz do
livro sobre a memória deste BALUARTE da sociedade.
Sobre
tudo o que se escreveu sobre o falecimento deste HOMI GARANDI Djom Bas, gostei
em especial do comentário do mano-velho Huco Monteiro, publicado até aqui neste
Blog, precisamente, porque falava da participação ativa e política para o despertar da consciência intra os guineenses, do cidadão João Vaz, mas curvo-me
também perante o comentário do Gorki Medina (Mandundu), que foca o aspeto de
estarmos perante o desaparecimento físico de um dos pilares dos valores
tradicionais da GUINENDADI. Tombou um dos poucos e, verdadeiro PATRIARCA da
Guiné.
Apenas
gostaria de fazer uma pequena ressalva em relação a pertença identitária do tio
João Vaz que era também fidju di Djiba. Isso dito pelo próprio em 2003, quando fui surpreendido em casa dos meus pais no bairro Tchon di Pepel, com a honrosa visita do tio João Vaz.
Queria
ver-me pessoalmente para dar os parabéns,
pois escutava todos os dias o programa “Renascença em África” retransmitida
pela Rádio Bombolom em Bissau, e queria manifestar o orgulho de ver o parente
de GEBA(Djiba) (neto do padrinho de batismo dele Adão de Pina Araújo, irmão de
um dos melhores amigos Domingos de Pina Araújo), a trabalhar na emissora que
mais admirava e respeitava em Portugal, Rádio Renascença.
Descansa
em PAZ GRANDE PATRIARCA JOÃO VAZ!!!
Caro Carlos Vaz,
ResponderEliminarEspero ter entrado bem no Ano Novo.
Mesmo tarde, gostaria mostrar aqui minha profunda tristeza em saber do falecimento do meu padrinho. Meu pai é Filipe Diamantino Gomes Jorge e minha mãe Celestina Berta Jamba Jorge. Depois de terminar a guerra em Angola, fiz de tudo para procurar pelos meus padrinhos. Ainda em 2003, iniciei uma conversa ao telefone com a madrinha, mas que não terminou, até acho que ela nem se apercebeu com quem falava. Foi uma conversa relâmpago. Dali até então, fiquei nas promessas de viajar para Bissau. Hoje decidi fazer uma pesquisa na net, e pumbas deparo-me com a triste noticia. Para mim é tudo como se fosse novo. Eu sou a Ita, a mais nova dos 10 filhos dos meus pais. Quando fomos a Portugal, fugidos de Angola, foi seu pai que organizou tudo para o meu pai. Eles tornaram-se amigos desde a partilha da cela em na cadeia da Pide em S.Nicolau. Preciso muito encontrar-me pelo menos com a minha madrinha. Acredito que ela ainda vive.
Sou profissional no ramo do turismo há alguns anos, e organizar uma viagem para vê-la não será difícil e neste instante é um assunto urgente.
Não lhe fale dos meus pais, os 2 já são falecidos, mas tenho muitos bons relatos deles que pessoalmente quero partilhar com ela.
Por favor Carlos, ajude-me. Meu email angela.martha06@gmail.com e meu celulara +244923973966. Vivo em Luanda, mas paro pouco tempo cá, por causa da minha vida profissional.
Agradeço a Deus, por encontrar vossas informações.
Que Deus continue vos protegendo.
Ita Jorge
Bom dia, sou francesa quero falar com você. Pode mim envia um mensagem por fazer. Izzygwady@gmail.com
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