sábado, 26 de dezembro de 2015

“Cerca de 20% a 30% da nossa dívida tem origem na corrupção”

Paulo Morais diz que o Parlamento “é o maior antro de corrupção” na política em Portugal.

O professor universitário Paulo Morais candidata-se à Presidência da República para “regenerar o sistema” e com o combate à corrupção como bandeira. Aponta o dedo ao Parlamento e aos deputados e promete guerra ao “triângulo de corrupção Portugal-Angola-Brasil”.

A corrupção será a sua bandeira na Presidência da República?
Seguramente, porque a corrupção é o maior mal da sociedade portuguesa. Todas as desgraças que os portugueses hoje vivem estão ligadas, directa ou indirectamente, à corrupção. O excesso de impostos, a pobreza, os baixos salários, a falta de meios e recursos que escasseiam, tudo isso tem origem em fenómenos de corrupção. Cerca de 20% a 30% da nossa dívida pública tem origem na corrupção. Falamos no BPN, no BES, no Banif, no BPP, na compra de submarinos, na corrupção na Expo, no Euro 2004, nas PPP. É uma lista infindável de casos. 

O que pode fazer o Presidente?
Pode fazer quase tudo, porque é o árbitro do sistema. Será a minha primeira actuação enquanto Presidente, convocar o Parlamento, tendo em vista um ponto único: a estratégia global de combate à corrupção. O combate à corrupção não se faz de forma casuística e com pequenas peças de um puzzle que nunca se cola. Tem de ser uma estratégia global que comece, em primeira instância, por combater a corrupção no próprio Parlamento. O Parlamento, é o maior antro de corrupção na política em Portugal. Uma parte significativa dos deputados passam a sua vida, não servindo os eleitores, mas a fazer de mercenários ao serviço de alguns grupos económicos.

Devem ser deputados em exclusivo?
Não queria ir à questão formal, porque há muitas formas de obter este objectivo. Se eu for Presidente não vou permitir que quem esteja em cargos públicos utilize esses cargos em proveito de terceiros que não o povo. Depois há uma segunda medida: criação de uma unidade de missão que faça a avaliação de todos os grandes negócios do Estado português dos últimos dez anos e que têm de ser revistos. 

A transparência internacional divulgou um relatório dos 15 maiores casos mundiais de corrupção onde está o caso BES, Isabel dos Santos..
Neste momento há um triângulo verdadeiramente preocupante de corrupção entre o Brasil, Angola e Portugal. Portugal não é assim tão importante economicamente, mas para os negócios de corrupção é muito importante. Na corrupção que há em Angola, que é no fundo roubo de património angolano aos angolanos que é canalizado para o estrangeiro, Portugal acaba por ser uma excelente porta de entrada para a Europa desses capitais. Hoje Lisboa é uma lavandaria do dinheiro feita no Brasil e Angola. Isabel dos Santos e outros casos são apenas exemplos de como é possível explorar um povo e andar ostensivamente na Europa e no mundo a fazer gala disso. Sendo eu Presidente da República tenciono fazer duas viagens rápidas: Angola e Brasil.

Não serão conversas fáceis?
Serão conversas francas. Comigo na  presidência da República, Lisboa deixa de ser porta de entrada dos dinheiros da corrupção desses dois países. 

Apoiará um candidato na segunda volta?
Tenho expectativa de ir à segunda à volta. Apoiar outro candidato não faria qualquer sentido, porque os outros são candidatos de partido, do sistema. A minha candidatura visa regenerar um sistema que está moribundo.

O que o fará dissolver a Assembleia da República (AR)?
Há duas questões distintas: uma é demitir o Governo, se não houver regular funcionamento das instituições, e algo diverso é dissolver a AR. Eu demitirei o primeiro-ministro e o Governo, se persistirem em apresentar no Parlamento um Orçamento inconstitucional, nomeadamente que mantenha isenções de IMI a fundos de investimento imobiliário ou que permitam que bens essenciais tenham IVA a 23% e bens de luxo a 6%. Pela mesma razão, uma Assembleia que persista em fazer legislação que garanta um conjunto de privilégios terá que ser dissolvida.

O que lhe parecem estes vários acordos de esquerda?
São acordos legítimos. Gostava que contemplassem a componente de combate à corrupção, que tem estado esquecido. Gostava de ver esta esquerda a aprovar em força a tal estratégia global de combate à corrupção.

Irá viver no Palácio de Belém?
Não, nem vou dar à Presidência da República a carga monárquica que tem hoje em Portugal. Não tem que existir Primeira-Dama, nem banquetes gigantescos que não são mais do que reuniões para tráfico de influências, onde os banqueiros se encontram com magistrados, os políticos com os empresários. 

Fonte: Econômico 

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