Sem querer me posicionar sobre as consequências jurídicas e políticas das
56 abstenções, zero votos contra e 45 votos a favor, registadas na votação da
proposta do programa do governo, deixando essa incumbência às autoridades
competentes, se vier a ser o caso, não deixarei todavia de indagar e manifestar
a minha profunda tristeza, quiçá até indignação pelo número exagerado de
abstenções que uma matéria de primordial importância para o quotidiano do POVO,
como é o Programa do Governo, mereceu da parte daqueles à quem esse mesmo POVO
elegeu e delegou o poder de o representar.
Tomando em consideração que, pela Constituição da República (Artigo 2º) a
soberania nacional da República da Guiné-Bissau reside no povo, que exerce o
poder político diretamente ou através dos seus representantes eleitos democraticamente,
para o representar e fazer valer os seus interesses no parlamento, arrepia-me
que tantos parlamentares façam a opção pela abstenção na votação de um programa
de governo.
Tratando-se, “in casu” da votação da proposta do Programa do Governo e
sabendo-se ser o Governo o órgão executivo e administrativo supremo da
República, que tem de conduzir a política geral do país ao abrigo do seu
Programa, parece-me que seria mais racional, curial, a assunção de uma posição
mais firme e determinante por parte dos parlamentares, uma posição que
espelhasse, que exprimisse com a contundência necessária se o interesse do POVO
estava ou não a ser devidamente acautelado, ou seja, um sim ou um não.
Devo confessar, na verdade, a minha estupefacção pelo patamar que a
abstenção atingiu, deixando transparecer um posicionamento pouco consentâneo
com o exercício do poder soberano que o POVO conferiu aos parlamentares.
Que me seja
permitido, enquanto cidadão, esse mero desabafo.
Por: Emiliano Nosolini
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