O ministro Teori
Zavascki, do Supremo
Tribunal Federal, morreu na tarde desta quinta-feira num acidente de
avião no mar da região de Paraty, no Rio de Janeiro, confirmou em uma rede
social o filho do magistrado, que tinha 68 anos. Zavascki, assim como os demais
ministros, estava formalmente de férias, mas havia decidido interromper o
descanso para trabalhar no processo da Operação Lava
Jato, do qual era relator no STF — ou seja, ele era o
responsável por passos decisivos da mega-investigação relacionados aos
políticos mais graduados do país, aqueles que têm foro privilegiado e só podem
ser julgados na mais alta corte brasileira.
A Força
Aérea Brasileira informou que o avião que caiu no litoral fluminense tinha o
prefixo PR-SOM e era de propriedade do hotel Emiliano, um luxuoso
empreendimento com sedes em São Paulo e no Rio de Janeiro. Segundo a FAB, a
aeronave que se acidentou partiu do aeroporto de Campo de Marte, em São Paulo,
às 13h01 desta quinta-feira. Às 14h foi informada a queda no município de
Paraty, no mar.
"Por
favor, rezem por um milagre", havia
dito o filho do ministro, Francisco Prehn Zavascki, em sua página no Facebook,
assim que soube que o magistrado estava a bordo. Viúvo desde 2013, Teori deixa
três filhos. Além do magistrado, morreram Carlos Alberto Fernandes
Filgueiras, 69 anos, dono do hotel Emiliano, e o piloto Osmar Rodrigues, 56,
segundo nota do grupo.
Post do filho de Teori
Zavascki no Facebook.
Todos os
olhos políticos do Brasil seguiam de perto o ministro do Supremo porque estava
nas mãos dele a homologação
das chamadas "delações do fim do mundo", as dezenas de
colaborações com a Justiça de executivos da empreiteira Odebrecht, incluindo a
de seu herdeiro e ex-presidente Marcelo Odebrecht.
A
expectativa era a de que Teori Zavascki começasse a decidir em fevereiro se
oficializava ou não as delações que implicam centenas de políticos, incluindo
integrantes dos núcleos duros do Governo Michel Temer e
da anterior gestão, da petista Dilma Rousseff.
Indicado
para o STF durante o Governo Dilma, Teori, que substituiu o ministro Cezar
Peluso, vinha demonstrando discrição ao longo do processo da Lava Jato. Em dos
momentos mais tensos, ele anulou como
prova os áudios de conversas entre Lula e Dilma divulgados pelo juiz Sérgio
Moro, que cuida da operação na primeira instância.
O
magistrado vinha respaldando a maioria das decisões de Moro, mas também não se
furtava a criticar supostos excessos tanto do juiz como dos procuradores da
força-tarefa em Curitiba.
O acidente
que matou Teori joga ainda mais combustível na arrastada crise política
brasileira, da qual nem o magistrado e sua família passavam incólumes. Em
março, logo depois de retirar de Moro a investigação contra Lula, a casa do
ministro no Rio Grande do Sul foi alvo de protestos de um grupo ligado ao Movimento
Brasil Livre (MBL), que pendurou faixas com os dizeres "Teori
traidor", "Pelego do PT".
Em maio de
2016, o filho do ministro, Francisco Zavascki, tinha postado que a família
tinha recebido ameaças por conta da atividade do pai. "É óbvio que há movimentos
dos mais variados tipos para frear a Lava Jato. Penso que é até infantil que
não há, isto é, que criminosos do pior tipo (conforme MPF afirma) simplesmente
resolveram se submeter à lei! Acredito que a Lei e as instituições vão vencer”,
escreveu Francisco no seu Facebook. “Porém, alerto: se algo acontecer com
alguém da minha família, vocês já sabem onde procurar...! Fica o recado!",
complementou.
Na época,
Teori confirmou às ameaças à imprensa, mas minimizou o episódio. “Não tenho
recebido nada sério”, disse. Um ano antes, em maio de 2015, a Polícia Federal
apurou um e-mail intimidador recebido por Zavascki que procurava “constranger”
o ministro. As mensagens no entanto, não continham ameaças diretas à
integridade física do magistrado e sua rotina de segurança não chegou a ser
alterada.
Como fica a
Lava Jato?
A morte do
ministro Teori Zavascki pode fazer com que a Operação Lava
Jato demore meses para ser retomada pelo Supremo Tribunal Federal.
No caso de morte ou aposentadoria do relator, cabe ao seu sucessor assumir todo
o trabalho. É o que prevê o artigo 38 do regimento interno da Corte. O
substituto de Zavascki seria escolhido pelo presidente Michel Temer e,
posteriormente, sabatinado pelo Senado Federal. Apenas para efeito de comparação,
entre a aposentadoria de Joaquim Barbosa e a posse de Edson Fachin, a última
substituição feita no STF, passaram-se onze meses.
Uma brecha
no próprio regimento da Corte, contudo, pode fazer com que a substituição seja
feita por uma determinação da presidenta
do Supremo, Cármen Lúcia. O parágrafo primeiro do artigo 68 prevê
que, em caráter excepcional, os processos que estiverem com um relator poderão
ser redistribuídos conforme o entendimento do presidente da Corte. A ministra
ainda não se manifestou o que fará neste momento.
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