20 de Janeiro
1973-2017 - Amílcar Lopes Cabral
O que se diria a um
defunto finado que por anacronismo histórico, resolvesse nos visitar passado 44
anos da sua morte e 92 anos do seu nascimento? Que palavras seriam mais
apropriadas para lhe expor o seu legado, o seu tributo?...a sua memória?
Falariamos com
convicção académica dos seus contributos para a evolução do pensamento humano,
panafricanos e quiça até universal. Sim, também falariamos dos seus feitos e do
reconhecimento que o seu trabalho terá tido em algumas instâncias africanas e
até mundiais...
Falariamos ainda dos
desfechos das lutas de libertação que ele iniciou e conduziu, mas que já não
pude assistir o seu fim. Dos processos das independências, das revoluções e
convulsões que lhes sucederam. Das guerras civis. Falariamos dos movimentos e
doutrinas que se impuseram e os que foram para o baú da história com a queda do
muro de Berlim e o fim da guerra fria.
Falariamos com
orgulho e certamente com algum cinismo e fanfaronice, dos ideais nacionalistas
e até tribalistas, que suplantaram os seus ideais universalistas. Explicariamos
as incongruências sócio-políticas das suas teses de união de dois países
geograficamente separados por um palmo de mar de águas.
Falariamos da queda
dos colonos, dos criolos e dos demais apátrios non-gratos. Da supremacia de uns
raros iluminados e da míseria de uns milhares de milhões de almas.
Falariamos da forma
como os políticos que reclamam pelo seu legado histórico, apropriaram-se do
Poder, do Estado e da Economia, de forma carnívora e até canibalistica, em
absoluta cegueira do bem comum.
Falariamos também
sim, e certamente com menos paixão, do desprezo e abandono da promoção da
cultura, da literatura e das ciências como forma de educar e civilizar o povo.
Falariamos de coisas assim e de outras que ele não foi digno de viver.
Por fim, falariamos
da saúde, da formação dos quadros, da promoção da agricultura e do
desenvolvimento humano... e mostrariamos a desprioridade desses sectores para a
afirmação da Nação.
Enfim, falariamos da
vida e da morte de um Homem que depois de morto, não só o corpo foi enterrado,
mas sobretudo à sua visão e o seu legado foi sepultado e embalsamado para nunca
mais ressuscitar...
Que a sua alma
descanse em paz e que não volte mais a nos visitar. Nem nos sonhos dos mais
iluminados. Não vá sem querer esse velho homem de 92 anos, ter um mal estar e
nos morra novamente entre as mãos. Que Deus nos livre de tal peso histórico. O
que carregamos já, já é tão imenso....
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