domingo, 29 de novembro de 2015

FALAR RECONCILIAÇÃO FAZER EXCLUSÃO

Ernesto Dabo
Dá muito jeito falar de reconciliação na Guiné-Bissau, porque no mercado politico nacional é produto que se procura desesperadamente, a ponto de, na maioria dos casos, comprarmos gato por lebre sem nos importarmos com o bichano que compramos. Precisamos dela como de água no deserto.

Essa dramática necessidade, paradoxalmente tem sido aproveitada mais para se ocupar centros de decisão e daí implementar processos de exclusão. Nas campanhas eleitorais ou outras, todos juram a pés juntos serem pela reconciliação, unidade, paz, desenvolvimento, contra a divisão, tribalismo, etc, etc. .  Mal atingem o poleiro, na maioria dos casos, inexplicavelmente, transformam-se nos mais corrosivos adversários dos seus próprios interesses e deveres essenciais, que são a defesa da legalidade, equidade e sensatez no exercício das suas funções, de jeito a impedirem caminho a factores promocionais de conflitos geradores de mais ódio, divisão e subdesenvolvimento. 

Este comportamento merece um estudo muito sério, porque é irracional e prejudica em primeiro lugar os responsáveis por ele, quando são políticos com a missão de governar o país. A meu ver, dirigir, seja a que escala for, implica que se seja capaz de, em circunstância alguma, se esquecer que se está a agir em nome e para defesa dos interesses das pessoas. Para que isso suceda com qualidade e satisfação da maioria, deve-se selecionar o staf, tendo por critério principal a competência, capacidade e disponibilidade de e para o trabalho. Nunca excluir por clientelismo ou outros “ismos” do estilo, porque isso é contrário à qualidade, factor sem o qual, boa governação não se consegue instalar. A título de exemplo, notemos que sempre que a cólera assola o país, ninguém se descuida com a qualidade da água e outros alimentos que consome, porque disso pode depender o fim do fulano ou fulana. Isso é um ensinamento particularmente recomendável para quem está a governar. O inverso sempre levou à desgraça, porque as sociedades também sobrevivem graças à qualidade do que consomem, nomeadamente, do cardápio politico-governamental.

Ao nos darmos conta de que as exonerações e nomeações que temos vindo a conhecer nos últimos tempos, numa elevada percentagem de casos, são trocas algo bizarras, se balançarmos, em termos relativos, as competências envolvidas. Em muitos casos, a mediocridade substituiu a competência e experiência. E o que mais me surpreende e entristece, acreditem ou não, é o facto de que a composição da presente equipa no poder é um paradigma desejável para qualquer sociedade desde que constituído segundo outros critérios. 

Se tivermos em conta a procedência e a história das relações políticas dos integrantes, nomeadamente do elenco governamental, diríamos que estamos face a um caso suis generis de reconciliação e integração, pois que semelhante amálgama ninguém acreditava que extravasasse o domínio do virtual. Mas porque o guineense ganha todos os “mundiais” da originalidade pela negativa, esta equipa entendeu fazer da exclusão um objectivo estratégico, alegadamente porque vale mais trabalhar com um incompetente da sua confiança do que com quem pensa e seja capaz de fazer, para estarem seguros nos respectivos postos. Esta incongruência é simplesmente horrível, na medida em que está a suceder numa época em que o nosso país é o maior depositário de provas provadas de que a exclusão é a “mãe “ de todas as degraças. Lamentavelmente insistimos em desgraçar o país, por continuarmos a privilegiar a aberração de proceder “ao preenchimento da escala hierárquica administrativa com quadros partidários ou “clientes”, em detrimento das competências e qualificações exigidas pelas funções. Não espanta por isso ver-se à frente de cargos profissionalmente exigentes, indivíduos pouco capacitados que, em função da sua lealdade pessoal para com o seu chefe (patrono), são convidados a ocupar esses cargos para os quais estão motivados, mas para que nunca foram tecnicamente preparados” 1.

Nós somos um povo pobre num país rico, porque temos muito pouco capital humano (intelectual) para investir no desenvolvimento e fazemos da exclusão um instrumento de combate às diferenças de pensamento e postura na classe politica, nomeadamente. Pena: quem exclui não conclui.

Em jeito de fecho, é com acentuada vénia que cito um pensamento expresso pelo saudoso Comissário Principal, Francisco Mendes (Chico Té): “Não é preciso que toda a gente seja do partido. O que é preciso, é que toda a gente seja patriota”.
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1. Álvaro Nóbrega, 
“ A LUTA PELO PODER NA GUINÉ-BISSAU”, pag: 182

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