quarta-feira, 21 de outubro de 2015

O golpe no Brasil também visava Cristina e Maduro


Por: FC Leite Filho
O açodamento pelo impeachment de Dilma Rousseff visava, na realidade, fazer o serviço completo: desestabilizar Cristina Kirchner, na Argentina, e Nicolás Maduro, na Venezuela, com o que puxaria a toalha destes e dos outros presidentes progressistas latino-americanos, no caso, Rafael Correa, do Equador, Evo Morales, da Bolívia, e Daniel Ortega, da Nicarágua. Assim, estaria aberto o caminho para a volta do neoliberalismo, na sua modalidade mais selvagem, de que hoje é exemplo o Perú, o México e o novo Acordo Transpacífico (TPP, do inglês Trans-Pacific Partnership).
Tudo seria feito dentro da legalidade, ainda que a la Paraguai, ou seja, pelo golpe parlamentar ou judicial. A simples efetivação do rito imposto pelo presidente da Câmara, Eduardo Cunha, para a tramitação doimpeachment, já geraria o clima de instabilidade para derrotar o candidato de Cristina, Daniel Scioli, e eleger o candidato da direita e neoliberal assumido Maurício Macri, na eleição presidencial deste domingo, e por tabela, conferir a maioria absoluta da direita anti-chavista na eleição parlamentar de seis de dezembro, na Venezuela.
Com a deflagração do processo de impeachment, Dilma se tornaria virtualmente deposta, provavelmente sendo substituída pelo vice-presidente Michel Temer, este já devidamente credenciado pelos sistemas de dominação para realizar as tais reformas antes incumbidas ao candidato derrotado em 2014 Aécio Neves: privatização dos sistemas de saúde, escolar, do Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal, BNDES, Petrobrás, e abolição dos direitos sociais, começando pelo 13o. salário, tudo, aliás, como se está fazendo no Peru e no México.
timing do golpe brasileiro, contudo, esbarrou na resistência inercial das instituições brasileiras, alquebradas, mas ainda fortes, como demonstrou as duas liminares do Supremo (dos ministros Teori Zavascki e Rosa Weber), suspendendo o rito de Eduardo Cunha, e, por que não dizer, dos movimentos sociais e da militância legalista, particularmente na internet, através dos blogs populares e das redes sociais, na verdade, responsáveis pelo desfecho da eleição de Dilma, em 2014.
Esta circunstância que se traduz em evidente derrota da mídia brasileira, a principal condutora da assuada golpista, acabou dando tempo a Cristina e a Maduro de robustecerem sua retaguarda e dispararem nas preferências eleitorais. Cristina, a essa altura, já amealhava mais de 50% de popularidade, por ter feito, junto com o marido Néstor Kirchner, seu antecessor, um dos governos mais realizadores do país. Ela também, partiu, ouvindo o conselho de seu velho amigo Hugo Chávez, para uma campanha eleitoral e anti-midiática, que a levou a convocar cadeia nacional de TV 43 vezes só este ano.
Tendo também a seu lado uma militância política e de mídia estatal das mais bem azeitadas, a presidenta pôde rebater os ataques diuturnos e furibundos da grande imprensa, liderada pelos oligopólios Clarín e La Nación, financiados pelo capital estrangeiro, incluindo os fundos abutres (buitres). Integrantes da cadeia jornalística que também abarca a Globo, Folha, Estadão, no Brasil, Televisa, no México, El Tiempo, na Colômbia, e El Mercúrio, no Chile, esses ataques queriam disseminar a matriz de informação de que Cristina estava levando a Argentina para o caos.
Dando a volta por cima, a corajosa viúva de Néstor, que alguns acreditavam solita e desamparada pela morte de seu companheiro de militância, como ela sempre faz questão de observar, mostrou aos argentinos, que seu país independe de currais (leia-se Estados Unidos e Europa) para afirmar-se como nação soberana. Ela provou que o mundo é cada vez mais multipolar, ao aliar-se com a Rússia e a China, além de seus vizinhos sul-americanos, à frente o Brasil. Tal estratégia lhe deram preciosa ajuda econômica, tecnológica e de infraestrutura, com a qual conseguiu varar todo o cerco estadunidense e europeu, que pretendeu dinamitar seu projeto nacional.
Agora, inaugurando seu segundo satélite orbital, projetado e concebido inteiramente por cientistas argentinos, a presidenta dá-se ao luxo de fazer uma video-conferência, com o presidente da Rússia, Vladimir Putin (veja o vídeo a seguir), quando menos para dizer, que o golpe não passará, nem lá nem aqui.

Sem comentários:

Enviar um comentário