Por: FC Leite Filho
O açodamento pelo impeachment de
Dilma Rousseff visava, na realidade, fazer o serviço completo:
desestabilizar Cristina Kirchner, na Argentina, e Nicolás Maduro, na
Venezuela, com o que puxaria a toalha destes e dos outros presidentes
progressistas latino-americanos, no caso, Rafael Correa, do Equador, Evo
Morales, da Bolívia, e Daniel Ortega, da Nicarágua. Assim, estaria
aberto o caminho para a volta do neoliberalismo, na sua modalidade mais
selvagem, de que hoje é exemplo o Perú, o México e o novo Acordo
Transpacífico (TPP, do inglês Trans-Pacific Partnership).
Tudo
seria feito dentro da legalidade, ainda que a la Paraguai, ou seja,
pelo golpe parlamentar ou judicial. A simples efetivação do rito imposto
pelo presidente da Câmara, Eduardo Cunha, para a tramitação doimpeachment,
já geraria o clima de instabilidade para derrotar o candidato de
Cristina, Daniel Scioli, e eleger o candidato da direita e neoliberal
assumido Maurício Macri, na eleição presidencial deste domingo, e por
tabela, conferir a maioria absoluta da direita anti-chavista na eleição
parlamentar de seis de dezembro, na Venezuela.
Com
a deflagração do processo de impeachment, Dilma se tornaria
virtualmente deposta, provavelmente sendo substituída pelo
vice-presidente Michel Temer, este já devidamente credenciado pelos
sistemas de dominação para realizar as tais reformas antes incumbidas ao
candidato derrotado em 2014 Aécio Neves: privatização dos sistemas de
saúde, escolar, do Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal, BNDES,
Petrobrás, e abolição dos direitos sociais, começando pelo 13o. salário,
tudo, aliás, como se está fazendo no Peru e no México.
O timing do golpe brasileiro, contudo,
esbarrou na resistência inercial das instituições brasileiras,
alquebradas, mas ainda fortes, como demonstrou as duas liminares do
Supremo (dos ministros Teori Zavascki e Rosa Weber), suspendendo o rito
de Eduardo Cunha, e, por que não dizer, dos movimentos sociais e da
militância legalista, particularmente na internet, através dos blogs
populares e das redes sociais, na verdade, responsáveis pelo desfecho da
eleição de Dilma, em 2014.
Esta
circunstância que se traduz em evidente derrota da mídia brasileira, a
principal condutora da assuada golpista, acabou dando tempo a Cristina e
a Maduro de robustecerem sua retaguarda e dispararem nas preferências
eleitorais. Cristina, a essa altura, já amealhava mais de 50% de
popularidade, por ter feito, junto com o marido Néstor Kirchner, seu
antecessor, um dos governos mais realizadores do país. Ela também,
partiu, ouvindo o conselho de seu velho amigo Hugo Chávez, para uma
campanha eleitoral e anti-midiática, que a levou a convocar cadeia
nacional de TV 43 vezes só este ano.
Tendo
também a seu lado uma militância política e de mídia estatal das mais
bem azeitadas, a presidenta pôde rebater os ataques diuturnos e
furibundos da grande imprensa, liderada pelos oligopólios Clarín e La
Nación, financiados pelo capital estrangeiro, incluindo os fundos
abutres (buitres). Integrantes da cadeia jornalística que
também abarca a Globo, Folha, Estadão, no Brasil, Televisa, no México,
El Tiempo, na Colômbia, e El Mercúrio, no Chile, esses ataques queriam
disseminar a matriz de informação de que Cristina estava levando a
Argentina para o caos.
Dando a volta por cima, a corajosa viúva de Néstor, que alguns acreditavam solita e
desamparada pela morte de seu companheiro de militância, como ela
sempre faz questão de observar, mostrou aos argentinos, que seu país
independe de currais (leia-se Estados Unidos e Europa) para afirmar-se
como nação soberana. Ela provou que o mundo é cada vez mais multipolar,
ao aliar-se com a Rússia e a China, além de seus vizinhos
sul-americanos, à frente o Brasil. Tal estratégia lhe deram preciosa
ajuda econômica, tecnológica e de infraestrutura, com a qual conseguiu
varar todo o cerco estadunidense e europeu, que pretendeu dinamitar seu
projeto nacional.
Agora,
inaugurando seu segundo satélite orbital, projetado e concebido
inteiramente por cientistas argentinos, a presidenta dá-se ao luxo de
fazer uma video-conferência, com o presidente da Rússia, Vladimir Putin
(veja o vídeo a seguir), quando menos para dizer, que o golpe não
passará, nem lá nem aqui.
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