Ferro Rodrigues
Fernando Negrão conseguiu 108
votos. Ferro Rodrigues obteve 120. Houve duas abstenções. O
socialista Eduardo Ferro Rodrigues foi esta sexta-feira eleito para presidir à
Assembleia da República, com 120 votos a favor. O
ex-líder da bancada parlamentar do PS recolheu 120 votos, enquanto o outro
candidato, o social-democrata Fernando Negrão, conseguiu apenas 108. Houve duas
abstenções. Ferro
sucede assim a Assunção Esteves.
Quem
é Ferro Rodrigues?
O
antigo líder do PS, Eduardo Ferro Rodrigues, chega a segunda figura do Estado
Português aos 65 anos, depois de ter ocupado vários cargos públicos. Eleito
deputado à Assembleia da República pela primeira vez em 1985, ministro nos
Governos socialistas liderados por António Guterres entre 1995 e 2001 e
secretário-geral do PS entre 2002 e 2004, Ferro Rodrigues foi entre junho de
2011 e setembro de 2014 vice-presidente da Assembleia da República.
Com
a eleição de António Costa como líder socialista, em novembro do ano passado -
candidatura que apoiou contra a do ex-secretário-geral António José Seguro -,
Ferro Rodrigues passou a presidir à bancada socialista, cargo que deverá neste
início da atual legislatura ser ocupado pelo ex-presidente do Governo Regional
dos Açores Carlos César.
Eduardo
Luís Barreto Ferro Rodrigues nasceu em 1949 em Lisboa, é licenciado em Economia
e Finanças. Adepto ferrenho do Sporting e ligado inicialmente do ponto de vista
político à ala "sampaísta" do PS, colaborou de perto com o anterior
Presidente da República, Jorge Sampaio, quando este desempenhou as funções de
secretário-geral do partido. Em 1989, pela direção socialista, negociou
diretamente com o líder histórico do PCP, Álvaro Cunhal, o acordo de coligação
PS/PCP para a Câmara de Lisboa - aliança autárquica que perdurou até 2001.
Na
sequência da demissão de António Guterres dos cargos de primeiro-ministro e de
secretário-geral do PS em dezembro de 2001 Ferro Rodrigues foi eleito
praticamente sem oposição interna para a liderança dos socialistas. Sob
a sua liderança, o PS venceu as eleições europeias de junho de 2004 com cerca
de 43 por cento dos votos.
Um
mês depois, no entanto, acabou por se demitir da liderança do PS, na sequência
de uma decisão de Jorge Sampaio, quando este convidou o PSD -- então liderado
por Pedro Santana Lopes -- a formar Governo, sem eleições, na sequência da
saída de Durão Barroso do cargo de primeiro-ministro para ocupar a presidência
da Comissão Europeia. Na altura, Ferro Rodrigues defendia que Jorge Sampaio
deveria dissolver a Assembleia da República e convocar eleições legislativas
antecipadas e encarou a decisão do seu camarada do partido foi "uma
derrota pessoal e política".
Durante
a sua liderança no PS, 'rebentou' o escândalo Casa Pia, que levou à detenção e
prisão preventiva por vários meses do então porta-voz socialista, Paulo
Pedroso, que acabou por ser ilibado de todas as acusações.
O
próprio Ferro Rodrigues viu o seu nome ser falado neste caso por duas das
alegadas vítimas, que processou por difamação e calúnia, tendo deposto no
julgamento como testemunha. Quando Paulo Pedroso se viu envolvido no escândalo,
defendeu que o processo Casa Pia não passava de "um assassinato
político" e advogou uma "teoria da cabala" contra os dirigentes
socialistas.
Depois
de deixar a liderança do PS, Ferro Rodrigues assumiu em 2005 funções de
representante permanente de Portugal junto da OCDE, em Paris, cargo que deixou
em abril de 2011, para integrar a lista de deputados do PS. No
primeiro governo de António Guterres, entre 1995 e 1999, Ferro Rodrigues esteve
à frente do ministério da Solidariedade e Segurança Social, onde foi
responsável pela introdução do Rendimento Mínimo Garantido e pela reorganização
da segurança social.
Em
acumulação com a segurança social, assumiu também a pasta da Qualificação e
Emprego, tornando-se ministro do Trabalho e Solidariedade em 1997. Depois
da tragédia de Entre-os-Rios, em 2001, que levou Jorge Coelho a demitir-se,
Ferro Rodrigues foi empossado como ministro do Equipamento Social.
Casado
e com dois filhos, Ferro Rodrigues foi membro cofundador do Movimento da
Esquerda Socialista (MES) e inscreveu-se no PS em 1986, depois de seis anos a
integrar o movimento "Nova Esquerda", que apoiava criticamente os
socialistas. Antes
do 25 de Abril esteve envolvido nas lutas estudantis, que o levaram a ser preso
pela PIDE no 1.º de Maio de 1973 e passar 12 dias no forte de Caxias. A sua
consciência política surgiu muito cedo, fruto de uma tradição liberal dentro da
família.
Um
dos acontecimentos mais marcantes para lhe despertar o espírito de contestação
ao regime do Estado Novo foi ter assistido à carga policial da GNR sobre os
apoiantes de Humberto Delgado que se juntavam no liceu Camões para assistir a
um comício do "general sem medo", tinha Ferro Rodrigues apenas oito
anos.
Fonte: DN
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