Estive em são Bernardo do Campo para uma palestra no Instituto Mauá. A
cidade já tinha alguma movimentação em função do velório de dona Marisa. A
divergência política e o contraditório são excelentes para a democracia. Todo
choque tem algumas barreiras. Uma é a ética: divergir não implica atacar.
Outra, muito importante, é a morte. Nada existe além dela. Extinguem-se
as animosidades. Termina o ódio no túmulo. Atacar ou ter felicidade pela morte
de um ser humano é uma prova absoluta de que a dor e o ressentimento podem
enlouquecer alguém. Se você sente felicidade pela morte de um inimigo, guarde
para si.
Trazer à tona torna pública sua fraqueza, sua desumanidade. Acima de
tudo, mostra que este inimigo tinha razão ao dizer que você era desequilibrado.
Contestem, debatam, critiquem: mas enderecem tudo isto a quem possa revidar.
Por enquanto temos apenas um homem que perdeu sua companheira, filhos órfãos e
netos sem a avó. Entre os vivos, surgem divergências e debates. Diante da
morte, impõe-se silêncio e respeito.
Nunca deixem de ser, ou ao menos, tentar parecer, um ser humano. Quando
você não tiver uma palavra de conforto para quem perdeu a mãe ou a esposa,
simplesmente, cale a boca. Sinto-me envergonhado por coisas que li na internet.
Por: Leandro
Karnal
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