sexta-feira, 6 de janeiro de 2017

MANSOA TERRA DE FÉ,

De alguns anos a essa parte, o nome da Guiné-Bissau tem estado a ser chamado sempre em coisas más. É a droga, é golpes de estado, os levantamentos armados, e a politiquice marcaram pela negativa a imagem do país.

Que a verdade seja dita a classe política tornou-se o “cancro” da política de desenvolvimento económico-social da Guiné-Bissau, levando mesmo os sucessivos Governos a não serem capazes de pôr cobro ao problema da falta de justiça no país, o que tem promovido, pelo contrário, a impunidade e o aumento da criminalidade e a interferência abusiva de certos sectores nos assuntos da governação e da justiça.

Mas, na verdade, os guineenses não são assim tão maus, como se pensa em vários quadrantes do mundo. Os guineenses sabem o que querem e o que devem fazer. O lado mau do país, está colado à camada política. O povo, esse vive na harmonia, na interculturalidade e é muito hospitaleiro.

Prova disso, as comunidades Católica e Muçulmana de Mansoa, estão a dar um importante exemplo ao mundo, demonstrando que, estando juntos, podem conviver sem problemas.

Desde há muito tempo que as duas comunidades cimentaram laços de uma profunda amizade, permitindo uma maior aproximação dos fiéis de ambas religiões, o que significa que, há muito tempo, compreenderam que realmente são condenados a viverem juntos.

Na altura padre Davide Sciocco, ex director da Rádio Sol Mansi, era pároco na paróquia de Santa Ana de Mansoa, e disse uma vez que: 

”Quanto mais que alguém se aproximar de Deus, mais se torna um homem de paz”. Davide Sciocco sente-se orgulhoso de ter sido ele quem lançou a primeira pedra para a construção de uma escola corânica em Mansoa e pensa ser, talvez, o único padre Católico do mundo que teve esta sorte.

Esta aproximação das duas comunidades, arquitectada pelo padre Davide e pelo Imame Aladje Bubacar Djaló, Presidente de União dos Imames da Guiné Bissau, ganhou peso porque ambos tiveram o cuidado de lembrar que uma comunidade não pode viver sem a outra e isto dá muita força à sociedade, em geral, fortalece a unidade e a compreensão mútua dos fiéis, que neste caso adoram um único Deus.

É preciso lembrar que o Bispo de Bissau, Dom José CamN’ate, chegou de agradecer a comunidade islâmica pelo gesto da aproximação que tem estado a revelar e daí cresceu, gradualmente, a confiança entre as partes que tiveram a coragem de promover cada vez mais intercâmbios e trocas culturais. Assim, na caminhada pela consolidação da amizade entre as duas partes, Imame Aladje Bubacar Djaló já tinha sido convidado para orar um tema, no quadro islâmico, para os catequistas que estavam em seminário de superação na Missão Católica de Mansoa e tomara parte no lançamento da pedra para a reconstrução da Igreja Santa Ana de Mansoa, bem como na sua inauguração.

A comunidade Católica teve a gentileza de ceder espaço, na Rádio Sol Mansi, para a apresentação regular do programa islâmico, “Voz do Islão”, difundido todas as quintas-feiras nas suas antenas. A comunidade islâmica, por seu turno, cada vez que organiza Ziara, convida os católicos para tomaram parte nela. 

Pode parecer absurdo, hoje em que mais se fala de Boko Haran, fundamentalismo ou estado islâmico, mas na realidade na Guiné-Bissau, ambas as comunidades estão empenhadas mutuamente conhecerem melhor a religião de cada uma para melhor se dialogarem em direcção aos ideais da coabitação e da paz.


Sem comentários:

Enviar um comentário