Bitchoufula Na Fafé (1949-2017)
- Abusos da tropa colonial portuguesa contra a população da
Guiné-Bissau precipitaram o início da luta armada, iniciada há 50 anos,
defendeu hoje o general Bitchoufula Na Fafé, ex-guerrilheiro do PAIGC.
A luta armada contra o colonialismo português começou na
Guiné-Bissau a 23 de janeiro de 1963, faz 50 anos na quarta-feira, dia feriado
no país e dedicado aos "Combatentes da Liberdade da Pátria".
Nesse dia, as forças do Partido Africano para a Independência da
Guiné e Cabo Verde (PAIGC) atacaram a tropa portuguesa em Tite, onde ficava um
quartel, no sul do país e não muito longe de Bissau em linha reta mas que por
estrada fica muito distante (devido à necessidade de contornar os rios).
A luta de libertação havia de durar 10 anos, até o PAIGC declarar
unilateralmente a independência, a 24 de setembro de 1973, reconhecida por
grande parte da comunidade internacional. Portugal, o país colonizador,
reconheceu a independência em setembro de 1974.
Em declarações à Agência Lusa a propósito da data, o general na
reserva e ex-artilheiro na frente sul Bitchoufula Na Fafé não tem dúvidas em
como o PAIGC não podia ter outra reação "perante os abusos do
colonialismo" contra a população guineense.
"O abuso era demasiado. A população, sobretudo a do sul da
Guiné, não podia ficar impávida e serena perante as atrocidades, por isso, o
partido decidiu mobilizar a população a pegar em armas contra os colonialistas
portugueses", defendeu.
Bitchoufula Na Fafé não fez parte do grupo que atacou o quartel de
Tite no dia 23 de janeiro de 1963, mas tem uma teoria sobre o sucedido.
"A guerrilha, que já existia nessa altura, decidiu atacar o
quartel de Tite por ser o local onde o Capitão Curto mandou prender pessoas que
tinha detido em várias zonas do sul, sob alegação de serem terroristas do
partido", contou o general.
"Dias antes houve uma grande operação de buscas em várias
zonas do sul, com os homens do Capitão Curto a procurarem por 'Nino' Vieira.
Dessa operação várias pessoas foram presas, sete pessoas na nossa 'tabanca'
foram mortas pela tropa colonial", afirmou Na Fafé, ex-comissário-geral da
Polícia de Ordem Publica.
Na altura Capitão do exército, José dos Santos Carreto Curto era o
chefe militar mais temido no sul da Guiné.
O general Bitchoufa Na Fafé contou que os homens do capitão Curto
"não davam sossego" às populações porque, disse, sabiam das
movimentações de elementos do PAIGC na mobilização das populações. Daí ao
início da luta armada foi um passo.
"Os colonialistas cometiam abusos que toda gente podia
reparar. Trabalho forçado, abuso contra as mulheres na presença dos seus
maridos legítimos, roubo e abate do gado bovino, coisas terríveis. Não podíamos
ficar de braços cruzados", defendeu o ex-guerrilheiro.
Hoje com 64 anos, o general disse que na altura do início da luta
armada o PAIGC ainda não tinha formado o exército, o que só viria a acontecer
um ano depois, mas já tinha "a guerrilha consciente".
"A guerrilha, muito antes desse ataque ao quartel de Tite, já
vinha fazendo coisas, reações contra os abusos. Já existia uma forte
consciência da guerrilha contra esses abusos", sublinhou Na Fafé, que
disse ter mais tarde falado pessoalmente com os guerrilheiros Arafam Mané e
Quemo Mané, tidos pela História, como os homens que dispararam os primeiros
tiros contra um quartel do exército colonial.
A "proeza" é ainda hoje assinalada com um dia feriado no
país e na quarta-feira será lembrada pelas forças armadas da Guiné-Bissau, numa
cerimónia evocativa.
Fonte: Lusa (2013)
Nota do Editor
Descanse em paz grande Combatente da Liberdade!!!
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