Luísa Borges 12/06/1946-14/05/2017
Cresci escutando falar dela, Luísa Borges
ou Tia-Sinhu para a Família. Contava-se entre os familiares que, a
responsabilidade e a tenacidade faziam-na merecer esse nome entre os primos(a)
Tia-Sinhu. Era uma tia muito especial que no inicio conhecia só pelo nome. Uma
vez que vivia numa terra muito distante da Guiné, com nome esquisito para mim
na época, Iugoslávia.
No meu imaginário seria um país muito
frio, isso baseado nas fotos que a tia Luísa mandava, nas correspondências que
ao longo dos anos foi mantendo com os meus pais. A brancura da neve, espalhada por
todos os lados, na maior parte das fotos dela e a família, fazia-me pensar só
podia ser, um país congelado.
Fomos crescendo em Bissau e, no início
dos anos 80 com os meus irmãos tivemos finalmente, a oportunidade de conhecer pessoalmente
a minha tia Luísa, o marido tio Gui (Hugo Borges) e a única filha do casal e
minha prima Nice quando regressaram da Jugoslávia. Tínhamos uma paixão enorme
pelas estórias que nos eram contadas na “primeira infância” pelos nossos
pais Leão e Eugénia, dos nossos tios Gui e Luísa, que muito jovens “fugiram”
para à LUTA.
No meio dos estudos superiores em
Portugal, a minha tia Luísa cursando Serviço Social em Lisboa e o meu tio Gui Medicina,
em Coimbra, mobilizados na altura, pelas células do PAIGC em Portugal, aderiram
a epopeica luta pela Liberdade como muitos jovens naquele período.
Abandonando tudo, pela grande causa que
era a Independência da Guiné, os dois conseguiram escapar as garras da PIDE e, forma
viver para Conakry, ainda nos finais dos anos 60. Filiaram-se no partido
libertador de Cabral e, enquanto militantes com alguma formação agregado a frequência
universitária, foram colocados como PROFESSORES, leccionando durante anos, na
antiga Escola Piloto que funcionava na capital da vizinha Guiné-Conakry.
Posteriormente, contemplados como muitos guineenses
com uma Bolsa de Estudo, partem os dois para a Iugoslávia para concluir os
estudos superiores. Sobre esse assunto, o casal contava a admiração que o
Amílcar Cabral nutria por eles. Pois depois de várias bolsas recusadas por
serem em países diferentes, o casal sempre se manteve unido até que lhes foi atribuída
uma Bolsa para o mesmo país Iugoslávia, na altura já casados e com uma filha, Nice.
Nas brincadeiras de fazer chatear, (casmurrices
da adolescência) gozava a Nice o fato de ela ter nascido em Conakry. Mas, com uma
candura impressionante, respondia aos meus ataques, com aquele orgulho de sempre
dos “filhos(a) da Luta” e a romântica estória dos pais.
Socióloga de formação, Luísa Borges foi
Diretora-Geral da Cultura na Guiné-Bissau, durante muitos anos. Abnegada e
sempre muito exigente em tudo o que fazia, a criação e impulsionamento da
Escola Nacional de Arte José Carlos Swartz, a profissionalização do Ballet
Nacional “Nossa Pátria Amada” foram reformas verificadas na época que deveu-se
muito ao contributo e participação dela na constante LUTA pela afirmação e
desenvolvimento deste país, Guiné-Bissau.
Ontem no final da noite (14 de maio) recebi a triste notícia
do falecimento em Dakar, da minha querida tia Luísa Borges. Com muita dor, endereço
as mais profundas condolências a toda a Família e, em especial ao meu tio Gui
(Hugo Borges) e a Nice, minha prima.
Luz perpetua para a grande MULHER COMBATENTE e, eterno descanso Tia-Sinhu,
do sobrinho,
Meco!
Sem comentários:
Enviar um comentário