segunda-feira, 15 de maio de 2017

Luz perpetua para a MULHER COMBATENTE

Luísa Borges 12/06/1946-14/05/2017

Cresci escutando falar dela, Luísa Borges ou Tia-Sinhu para a Família. Contava-se entre os familiares que, a responsabilidade e a tenacidade faziam-na merecer esse nome entre os primos(a) Tia-Sinhu. Era uma tia muito especial que no inicio conhecia só pelo nome. Uma vez que vivia numa terra muito distante da Guiné, com nome esquisito para mim na época, Iugoslávia. 

No meu imaginário seria um país muito frio, isso baseado nas fotos que a tia Luísa mandava, nas correspondências que ao longo dos anos foi mantendo com os meus pais. A brancura da neve, espalhada por todos os lados, na maior parte das fotos dela e a família, fazia-me pensar só podia ser, um país congelado. 

Fomos crescendo em Bissau e, no início dos anos 80 com os meus irmãos tivemos finalmente, a oportunidade de conhecer pessoalmente a minha tia Luísa, o marido tio Gui (Hugo Borges) e a única filha do casal e minha prima Nice quando regressaram da Jugoslávia. Tínhamos uma paixão enorme pelas estórias que nos eram contadas na “primeira infância” pelos nossos pais Leão e Eugénia, dos nossos tios Gui e Luísa, que muito jovens “fugiram” para à LUTA. 

No meio dos estudos superiores em Portugal, a minha tia Luísa cursando Serviço Social em Lisboa e o meu tio Gui Medicina, em Coimbra, mobilizados na altura, pelas células do PAIGC em Portugal, aderiram a epopeica luta pela Liberdade como muitos jovens naquele período. 

Abandonando tudo, pela grande causa que era a Independência da Guiné, os dois conseguiram escapar as garras da PIDE e, forma viver para Conakry, ainda nos finais dos anos 60. Filiaram-se no partido libertador de Cabral e, enquanto militantes com alguma formação agregado a frequência universitária, foram colocados como PROFESSORES, leccionando durante anos, na antiga Escola Piloto que funcionava na capital da vizinha Guiné-Conakry.

Posteriormente, contemplados como muitos guineenses com uma Bolsa de Estudo, partem os dois para a Iugoslávia para concluir os estudos superiores. Sobre esse assunto, o casal contava a admiração que o Amílcar Cabral nutria por eles. Pois depois de várias bolsas recusadas por serem em países diferentes, o casal sempre se manteve unido até que lhes foi atribuída uma Bolsa para o mesmo país Iugoslávia, na altura já casados e com uma filha, Nice. 

Nas brincadeiras de fazer chatear, (casmurrices da adolescência) gozava a Nice o fato de ela ter nascido em Conakry. Mas, com uma candura impressionante, respondia aos meus ataques, com aquele orgulho de sempre dos “filhos(a) da Luta” e a romântica estória dos pais.  

Socióloga de formação, Luísa Borges foi Diretora-Geral da Cultura na Guiné-Bissau, durante muitos anos. Abnegada e sempre muito exigente em tudo o que fazia, a criação e impulsionamento da Escola Nacional de Arte José Carlos Swartz, a profissionalização do Ballet Nacional “Nossa Pátria Amada” foram reformas verificadas na época que deveu-se muito ao contributo e participação dela na constante LUTA pela afirmação e desenvolvimento deste país, Guiné-Bissau.

Ontem no final da noite (14 de maio) recebi a triste notícia do falecimento em Dakar, da minha querida tia Luísa Borges. Com muita dor, endereço as mais profundas condolências a toda a Família e, em especial ao meu tio Gui (Hugo Borges) e a Nice, minha prima. 

Luz perpetua para a grande MULHER COMBATENTE e, eterno descanso Tia-Sinhu, 

do sobrinho, Meco!

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