Eu
estava sentado na primeira fila do Boeing 767. Domingos Simões Pereira e esposa
estavam sentados na mesma fila ao meu lado
esquerdo, junto à janela do avião. Ao meu lado direito estava sentado Mário
Lopes da Rosa.
O aparelho saiu devagar do estacionamento, no aeroporto da
Portela, rolou até ao fim do longo pavimento, depois virou à direita,
aproximando-se da pista de descolagem. Quando já se preparava para aceder à pista,
o Comandante apresentou-se:
–
Bom dia. Fala-vos o Comandante Mário Tavares.
O
Domingos e eu entreolhamo-nos e, quase em uníssono, gritámos:
–
Uau, Mário João!
Ambos
sabíamos que o Mário João é comandante de voo da Euro Atlantic. O que ambos não
sabíamos é que ele é que estava a pilotar o avião naquele dia.
Estávamos
a 27 de Março de 2015. Tínhamos deixado Bruxelas na véspera, depois da mesa
redonda, e passámos a noite em Lisboa. Na manhã seguinte apanhámos o voo da
Euro Atlantic para regressar a Bissau. Estávamos ainda excitados com o que
acontecera em Bruxelas. Mário João aumentou ainda mais a nossa excitação ao dar
os detalhes do voo em Português, depois em Inglês e em Crioulo. A seguir,
sempre em Crioulo, saudou o Primeiro-Ministro e sua comitiva e felicitou-nos
pelo sucesso da mesa redonda.
O
avião acelerou na pista e, instantes depois, a roda de frente já estava no ar,
propulsando o aparelho para cima. O céu de Lisboa estava azul e limpo e, pelas
janelas, podia-se ver a cidade ainda calma naquela manhã fresca. Após cerca de
meia hora de voo, quando o avião já havia atingido a altitude de cruzeiro de 11
000 pés, a porta da cabine abriu-se e saiu o Mário João sorridente. Veio de
propósito cumprimentar-nos. Levantámo-nos, abraçámo-nos e ficámos de pé a
conversar.
Contou-nos que não estava de serviço naquele dia, mas quando a
Administração da Euro Atlantic soube na véspera que no voo estaria a delegação
da Guiné-Bissau que vinha da mesa redonda, telefonaram-lhe a pedir que fosse
ele a pilotar. Sentimos um orgulho indescritível.
Durante
cerca de vinte minutos conversámos sobre o nosso país. Falámos da mesa redonda,
da perspectiva de criação de uma companhia aérea nacional e da beleza das
nossas ilhas. Disse-nos que em toda a sua carreira de piloto de longo curso, a
ilha mais bonita que já sobrevoou é a de Caravela. Já no fim da conversa,
confidenciou-nos que haveria uma surpresa no final do voo e fizemos uma
fotografia juntos. A seguir regressou à cabine e voltou a assumir o comando do
voo.
O
aparelho deixou para trás a Península Ibérica e começou a sobrevoar o Magreb.
Nós divertíamos com várias histórias engraçadas e bebíamos Moet & Chandon.
O tempo passou e não demos conta. A dado momento, o avião começou a descer,
avançando rapidamente em direcção ao solo. Mergulhou nas nuvens brancas e saiu
pouco depois, deixando os passageiros com uma magnífica vista de rios a
serpentearem por uma vasta planície verde.
Num
instante, aproximou-se da pista do Aeroporto Osvaldo Vieira, colocou-se a jeito
e desceu ainda mais até sentirmos o seu impacto no solo. Olhei para o relógio.
Eram 13h:05m.
Enquanto
o aparelho corria na pista, a janela da cabine abriu-se e uma enorme bandeira
da Guiné-Bissau despontou do avião flutuando no ar. Olhei pela janela do lado
esquerdo e vi uma imensa multidão à nossa espera. Baixei a cabeça e voltei a
gritar:
–
Uau.
Mário
João despediu-se de nós à saída, desejando-nos boa sorte. Voltou a entrar na
cabine para um breve descanso antes de voltar a descolar de volta rumo a
Lisboa.
Bissau,
12 de Março de 2016
Por: Geraldo Martins
emocionante
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