quinta-feira, 17 de março de 2016

Rum de Guineense feito em São Tomé com pitadas de Portugal e Inglaterra

Que projeto é esse que leva um guineense a atravessar um Oceano e ter porta aberta em São Tomé, depois de viver em Portugal e Inglaterra?

A história de Godofredo (Gudi para os amigos) pode ser um retrato prático do que é a lusofonia: uma cultura embebida em Português que não conhece fronteiras.

E a marca de rum Pico Mocambo em que ele aposta pode servir de amostra da mistura de origens e nacionalidades de que São Tomé e Príncipe sempre foi palco, desde os primeiros tempos de colonização.

Gudi aterrou em São Tomé com 300 euros e 40 libras na bagagem, ao segundo dia encontrou emprego num dos cafés emblemáticos da capital e em 2012 agarrou a oportunidade: assumiu a gerência do bar Pico Mocambo, na altura gerido por um francês.

O espaço era conhecido como bar do Pierre e é hoje um bar de referência que ocupa uma antiga casa colonial portuguesa e os jardins em redor, com esplanada, uma fonte e vegetação cuidada.

Aberto das oito da manhã pela noite dentro, “enquanto houver clientes”, oferece Internet gratuita e salas interiores para quem preferir maior recato.
A palavra mocambo significa refúgio e é isso que o espaço procura ser: “um refúgio para quem procura um local para conviver, porque na ilha não há muitas alternativas”.

O rum aromatizado é a especialidade do bar que Gudi sonha um dia exportar. Já era produzido artesanalmente pelo anterior dono do bar, “mas não com esta ideia de marca e de produto para escoar”, refere Godofredo, para quem há inúmeras potencialidades por explorar nas ilhas.

O segredo está na cana de São Tomé: “A destilação tem que ser bem feita. Vê-se muita cana produzida nas roças”, mas não serve qualquer uma.

“É preciso um bom alambique, ingredientes certos, cortados no momento certo e na medida certa. Depois é uma questão de tempo e dedicação”, descreve Gudi enquanto serve um dos aromas.

O segredo está na cana e o sabor está nos produtos locais colocados em cada garrafa: cacau, café, baunilha, entre outros. O bar dá o nome ao produto e serve de ponto de partida para o escoar e dar a conhecer. Com a história que lhe dá origem, nasce logo à partida com vocação internacional.

Godofredo, 35 anos, é filho de pais guineenses, cresceu entre Bissau e Lisboa, viveu em Inglaterra, mas é em São Tomé que acredita que há potencial para construir um futuro.

Para além do bar e do projeto de produção de rum aromatizado, ele é também o proprietário de uma casa de artesanato e dinamiza a produção local.

“Aqui, em África, é que está o potencial. Na Europa a concorrência é muito maior e é preciso toda uma estrutura para se estar bem”, descreve.

Acresce que a paixão de Gudi por São Tomé e Príncipe foi “imediata”, durante uma primeira visita em 2002. “E na altura ainda não havia coisas como a Internet. Era tudo mais virgem. Cheio de sítios que parecem cenários perfeitos para um filme” e que, garante, ainda hoje permanecem.

Fonte: Lusa

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