Que
projeto é esse que leva um guineense a atravessar um Oceano e ter porta aberta
em São Tomé, depois de viver em Portugal e Inglaterra?
A
história de Godofredo (Gudi para os amigos) pode ser um retrato prático do que
é a lusofonia: uma cultura embebida em Português que não conhece fronteiras.
E
a marca de rum Pico Mocambo em que ele aposta pode servir de amostra da mistura
de origens e nacionalidades de que São Tomé e Príncipe sempre foi palco, desde
os primeiros tempos de colonização.
Gudi
aterrou em São Tomé com 300 euros e 40 libras na bagagem, ao segundo dia
encontrou emprego num dos cafés emblemáticos da capital e em 2012 agarrou a
oportunidade: assumiu a gerência do bar Pico Mocambo, na altura gerido por um
francês.
O
espaço era conhecido como bar do Pierre e é hoje um bar de referência que ocupa
uma antiga casa colonial portuguesa e os jardins em redor, com esplanada, uma
fonte e vegetação cuidada.
Aberto
das oito da manhã pela noite dentro, “enquanto houver clientes”, oferece
Internet gratuita e salas interiores para quem preferir maior recato.
A
palavra mocambo significa refúgio e é isso que o espaço procura ser: “um
refúgio para quem procura um local para conviver, porque na ilha não há muitas
alternativas”.
O
rum aromatizado é a especialidade do bar que Gudi sonha um dia exportar. Já
era produzido artesanalmente pelo anterior dono do bar, “mas não com esta ideia
de marca e de produto para escoar”, refere Godofredo, para quem há inúmeras
potencialidades por explorar nas ilhas.
O
segredo está na cana de São Tomé: “A destilação tem que ser bem feita. Vê-se
muita cana produzida nas roças”, mas não serve qualquer uma.
“É
preciso um bom alambique, ingredientes certos, cortados no momento certo e na
medida certa. Depois é uma questão de tempo e dedicação”, descreve Gudi
enquanto serve um dos aromas.
O
segredo está na cana e o sabor está nos produtos locais colocados em cada
garrafa: cacau, café, baunilha, entre outros. O
bar dá o nome ao produto e serve de ponto de partida para o escoar e dar a
conhecer. Com
a história que lhe dá origem, nasce logo à partida com vocação internacional.
Godofredo,
35 anos, é filho de pais guineenses, cresceu entre Bissau e Lisboa, viveu em
Inglaterra, mas é em São Tomé que acredita que há potencial para construir um
futuro.
Para
além do bar e do projeto de produção de rum aromatizado, ele é também o
proprietário de uma casa de artesanato e dinamiza a produção local.
“Aqui,
em África, é que está o potencial. Na Europa a concorrência é muito maior e é
preciso toda uma estrutura para se estar bem”, descreve.
Acresce
que a paixão de Gudi por São Tomé e Príncipe foi “imediata”, durante uma
primeira visita em 2002. “E na altura ainda não havia coisas como a Internet. Era tudo mais virgem. Cheio de
sítios que parecem cenários perfeitos para um filme” e que, garante, ainda hoje
permanecem.
Fonte:
Lusa
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