"Olha, Mário:
Morreste, como eu e
todos nós, um dia, teremos de morrer. Não tenhas ilusões : nem todos te irão
chorar, como eu te choro e muitos mais. Mas também não faz mal! Nós somos uma
grande família ideológica. E essa não vai só do Minho ao Algarve. Vai do Ártico
ao Antártico. Vai por aí fora, por todos os azimutes.
Somos os que pensam
que é possível ser justo sem ser carrasco. Somos os que acreditam que a Justiça
sem Liberdade sabe mal. Somos os que dizem que nenhuma razão de Estado se
poderá sobrepor à nossa inventiva, à nossa criatividade, ao nosso engenho
individual. Somos os que, conhecendo a natureza humana, sabem que a melhor das
equidades começa sempre por nós e pelos nossos Familiares, mas que depois vêm
os outros, esses outros que não podem ser tratados como metecos ou como
escravos.
Digo isto e
lembro-me de muitas das tuas frases, de muitos dos teus discursos. E lembro-me,
fora de Portugal, do nosso querido Olof Palme, do nosso saudoso Willy Brandt,
do teu e nosso Amigo François Mitterand. Somos uma ideia em marcha, apontada ao
coração do Futuro.
Olha Mário, foste-te
embora, mas nós estamos aqui. Para continuarmos a tua luta. Para tentarmos
fazer o que tu não pudeste fazer. E não vamos nunca desertar.
Socialismo? É um
simples vocábulo que pouco significa quando comparado com a expressão cimeira
JUSTIÇA SOCIAL. Porque o Socialismo é só um vocábulo que muitos emporcalharam
miseravelmente. Mas a Justiça Social, essa Justiça concreta e viva que tu e
outros nos ensinaram, é um projecto de vida que dura toda a vida.
Foste-te embora,
Mário, e todos nós - os da tua barricada - estamos a chorar. Mas parte
tranquilo, Mário! O teu legado não caiu no vazio. Nós estamos aqui. Para o que
der e vier!
Um punho erguido
(com a mão esquerda, para não haver confusões). E uma promessa., Mário!, uma
promessa solene : estarás connosco em todos os momentos".
Manuel Acácio leu
esta carta, escrita por Amadeu Carvalho
Militantes do partido PAIGC hoje junto à sede do Partido Socialista (PS) em Lisboa...
Fonte/Foto: TSF
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