Ódio
à Democracia . Nestes momentos de debates intensos, parece surgir um certo ódio
à democracia. Li e ouvi muitas reclamações relativamente à crise política
actual na GB, que agora "todo mundo é jornalista","todo mundo é
especialista". Parece haver um certo incómodo pelo facto de todo mundo
estar a falar. O discurso sobre os factos, antes monopólio de um grupo restrito, está em disputa. A democracia permite que todos falem. Tornou-se impossível fechar as fronteiras dos discursos.
Quais
são os riscos das narrativas únicas? Quais são os riscos do poder instituído ou
só um certo grupo de pessoas arbitrar e legitimar?
Propor
o debate da crise numa perspectiva fechada e anacrônica, reduzida a um binômio
insolúvel e sempre tendencioso, revela um certo temor em enfrentar outras
posições e criar outros modos de compreensão do debate.
Essa
saudade de quando nem todo mundo podia falar é sintomática: quem sempre teve o
monopólio do discurso deve ter medo, medo que a pluralidade de narrativas nos
coloque mais próximos daquilo que seria uma dimensão da verdade.
Tem
que se fazer política menos com o fígado, menos a partir das nossas
perspectivas muitas vezes privilegiadas, menos com o academicismo - não é só a
academia ou qualquer outra instituição de poder que vai atribuir legitimidade
aos discursos sobre ética e verdade - mais com as nossas vivências, mais com a
escuta fraterna.
Rancière
escreveu que a democracia não é uma questão de instituições, mas de actividade
e imaginação. Está em permanente construção. Precisamos fazer com que os
protagonistas sejam as pessoas, não os sócios dos governos, os ditos
intelectuais/activistas mediáticos que usam todos os meios possíveis de forma a
negociar posições ou são seleccionados pelo próprio sistema porque são
inofensivos ao sistema.
No
lugar da GB-negócio, queremos a GB de direitos. Em vez da soberania confiscada,
a soberania cidadã. A resposta para a crise da democracia é mais democracia.
Por: Fatumata Jau
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