sexta-feira, 5 de fevereiro de 2016

Ódio à Democracia

 
Ódio à Democracia . Nestes momentos de debates intensos, parece surgir um certo ódio à democracia. Li e ouvi muitas reclamações relativamente à crise política actual na GB, que agora "todo mundo é jornalista","todo mundo é especialista". Parece haver um certo incómodo pelo facto de todo mundo estar a falar. O discurso sobre os factos, antes monopólio de um grupo restrito, está em disputa. A democracia permite que todos falem. Tornou-se impossível fechar as fronteiras dos discursos. 

Quais são os riscos das narrativas únicas? Quais são os riscos do poder instituído ou só um certo grupo de pessoas arbitrar e legitimar?

Propor o debate da crise numa perspectiva fechada e anacrônica, reduzida a um binômio insolúvel e sempre tendencioso, revela um certo temor em enfrentar outras posições e criar outros modos de compreensão do debate.
Essa saudade de quando nem todo mundo podia falar é sintomática: quem sempre teve o monopólio do discurso deve ter medo, medo que a pluralidade de narrativas nos coloque mais próximos daquilo que seria uma dimensão da verdade.

Tem que se fazer política menos com o fígado, menos a partir das nossas perspectivas muitas vezes privilegiadas, menos com o academicismo - não é só a academia ou qualquer outra instituição de poder que vai atribuir legitimidade aos discursos sobre ética e verdade - mais com as nossas vivências, mais com a escuta fraterna.

Rancière escreveu que a democracia não é uma questão de instituições, mas de actividade e imaginação. Está em permanente construção. Precisamos fazer com que os protagonistas sejam as pessoas, não os sócios dos governos, os ditos intelectuais/activistas mediáticos que usam todos os meios possíveis de forma a negociar posições ou são seleccionados pelo próprio sistema porque são inofensivos ao sistema.

No lugar da GB-negócio, queremos a GB de direitos. Em vez da soberania confiscada, a soberania cidadã. A resposta para a crise da democracia é mais democracia.

 Por: Fatumata Jau

Sem comentários:

Enviar um comentário