Flora Gomes
Na
altura do post que acompanha este pequeno texto, ainda decorriam apenas 2 meses
da crise...Completado um semestre, confirma-se que para além de "cego e
surdo" o piloto ficou MUDO!!!
É angustiante ver e constatar isso, mas é a
pura verdade, e a leitura realista da situação política na
Guiné-Bissau...Poucas vezes na nossa estória, aliás, não me recordo de um
piloto dar tantas combalidas com o avião e não CAIR…Mesmo o reconhecido e
mítico POMBO seria capaz de tal acrobacia...quem
conhece minimamente os meandros do poder na Guiné, sabe do que falo.
Embora
sendo um observador desatento, mas sou da opinião que, com um piloto assim,
mesmo os passageiros que tinham guardado alguma "fé" perderam-na...o
certo é que o maior problema do piloto surdo, cego e mudo é que ele depois de
eleito, acreditou ter plenos poderes do povo mesmo não respeitando esse mesmo
povo…ao se ver cingido pela aureola tênue do poder, acreditou piamente que iria
pairar em cima da Lei dos demais mortais, por um bom tempo, afinal, a
candidatura do mesmo a presidência foi rodeada de polêmicas e esteve envolta de
nuances de CORRUPÇÃO ATIVA…mas tudo prova que enganou-se, e a realidade mostra
que o tempo foi muito curto...curto demais...
Acredito
que, se a justiça continuar a funcionar e a marcar os passos com coragem, se os
juízes mantiverem determinados em encarar de frente a IMPUNIDADE, e com o coeso
sentido patriótico do celebre ACORDÃO do STJ, que "fuzilou" os primeiros
ímpetos absolutistas do piloto...Ou seja, se a justiça funcionar em pleno na
Guiné, já se pode imaginar onde poderá terminar o voo do piloto cego, surdo,
mudo, ou seja, poderemos assistir uma queda aparatosa, atrás das grades!!!
Quanto
a mim, tenho orgulho de ter vivido no mesmo tempo e ser do mesmo país do Flora
Gomes, um dos maiores vultos do CINEMA africano. Reconhecido mundialmente, com
prêmios e presença nos certames mais respeitados e importantes da sétima arte deste planeta.
Tenho orgulho de saber que estou do lado dos bons, daqueles que já deram e dão
provas de competência, experiência e capacidade dentro e fora da Guiné! Estou
do lado dos que amam de forma incondicional a GUINÉ...E você, de que lado está???
Um
avião chamado Guiné-Bissau com um piloto que ficou cego e surdo, acusa Flora
Gomes
O
cineasta guineense Flora Gomes ilustra com uma cena trágica a crise política no
país, que completa hoje dois meses sem Governo. O
realizador imagina toda a população a viajar num avião, que representa o país,
em que se pensava estar “um bom piloto. Só que de um momento para o outro, o
piloto ficou cego e surdo” e ninguém sabe para onde vai.
Flora
Gomes é um dos artistas guineenses ouvidos pela Lusa que se diz “revoltado” com
as decisões do Presidente da República, José Mário Vaz, o “piloto” que a 12 de
agosto demitiu o Governo contra a opinião generalizada das entidades nacionais
e estrangeiras.
Depois
de o país ter conquistado no início do ano a confiança internacional, traduzida
em mil milhões de euros de intenções de investimento, caiu numa crise política
“que ninguém esperava. Muito menos nós, que andamos aqui todos os dias”,
referiu.
O
cineasta não quer revelar o que acontece ao avião que já começou a imaginar. “É
um trabalho em que ainda estou a refletir” para saber “como vou tratar disso,
daqui a uns anos”, referiu.
Se
resultar num filme, vai retratar o que Flora diz ser “um momento de desespero e
de revolta”, sobretudo para a juventude que já merecia poder “sonhar” como
“toda a juventude do mundo”, em vez de ter a vida limitada ao“capricho de um super-homem que acha que é todo-poderoso. Neste país acho que
já não há lugar para isso”.
Bissau
voltou a ter falhas no abastecimento de água e eletricidade e os projetos de
investimento, vitais num país onde falta tudo, aguardam por um entendimento
político que tarda em surgir.
“A
malta da nossa geração achava que situações de crise, paralisia ou golpe de
Estado, nem que seja palaciano, já estariam ultrapassadas neste país. E que
estaríamos todos virados para a luta pelo desenvolvimento”, refere Spencer
Embaló, um dos membros do Movimento Ação Cidadã (MAC).
Este
grupo de jovens tem organizado ações culturais, entre as quais o HomenageArte,
destinado a mostrar o trabalho de guineenses que sirvam de exemplo para as
novas gerações.
Flora
Gomes foi o primeiro homenageado e o MAC conseguiu o feito de organizar um
evento cultural no quartel da Amura, sede dos líderes militares, local temido
para muitos guineenses e impenetrável até ao último ano.
“Neste
momento, as bases da democracia e da liberdade estão absolutamente tremidas.
Não sabemos muito bem se iremos descarrilar por completo ou reerguer-nos”,
refere Spencer.
O
que se passa agora na Guiné-Bissau “não é normal, mas vai mostrar a máscara” de
alguns políticos, acrescenta Jacinto Mango, poeta e ator, que a 24 de setembro,
Dia da Independência, percorreu ruas de Bissau disfarçado de Amílcar Cabral, um
dos fundadores da nacionalidade guineense.
“Já
convidei os políticos, tanto através do teatro como da poesia, para olharem
para o rosto do povo e saber se ele está contente ou não. É isso que os
políticos devem começar a fazer”, porque não faz sentido “ter um bom discurso e
ver o povo chorar”, sublinha.
O
jornalista e poeta Tony Tcheka lançou na última semana, em Bissau, o seu último
livro, “Desesperança no Chão de Medo e Dor”, que retrata sentimentos e
ambientes de um outro momento de instabilidade, o golpe de Estado de 2012.
No
contexto atual, Tcheka teme o desespero que pode levar “pessoas menos
recomendáveis a fazerem as suas loucuras”.
“Mais
um ato de loucura que conduza a qualquer ação de violência pode ser o fim da
Guiné-Bissau, porque estamos a ficar debilitados moralmente, psicologicamente,
materialmente e fisicamente”, alerta. Todos
estes guineenses ouvidos pela Lusa têm projetos em suspenso devido à crise
política.
“Se
o Movimento Ação Cidadã chegar à conclusão que a democracia está em perigo, é
difícil conseguir ter discernimento, pensar em atividades culturais, embora
merecidas, como o HomenageArte”, explica Spencer Embaló.
Flora
Gomes, por seu lado, já deveria ter em andamento “um novo trabalho
cinematográfico”, mas faltam interlocutores: “não sei com quem falar, não há
ministros. Está tudo parado, estou à espera”.
Jacinto
Mango questiona: quem é que ainda vai querer apoiar atividades no país?
“Uma
coisa que tenho de sobra é criatividade. E inspiração. Mas não posso
concretizar essa inspiração num país em que há sempre turbulência. Quem é que
me vai ajudar”, questiona.
“Havia
tanta coisa prevista depois da mesa redonda de Bruxelas (encontro de doadores
realizado em março) que foi quase como uma lufada de ar fresco q chegou até
nós. Os nossos parceiros e amigos acreditaram em nós”, lembra Tony Tcheka, mas
afinal a Guiné-Bissau voltou a cair na instabilidade.
Fonte:
Lusa
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