3/12/2015
O Presidente da Câmara
dos Deputados, Eduardo Cunha, é acusado de graves atos delituosos: de
beneficiário do Lava-Jato, de contas não declaradas na Suiça, de mentiras
deslavadas como a última numa entrevista coletiva ao declarar que o Deputado
André Moura fora levado pelo Chefe da Casa Civil Jacques Wagner a falar com a
Presidenta Dilma Rousseff para barganhar a aprovação da CPMF em troca da
rejeição da admissibilidade de um processo contra ele no Conselho de Ética.
Repetidamente afirmou que a Presidenta em seu pronunciamento mentiu à nação ao
afirmar que jamais se submeteria à alguma barganha política.
Quem mentiu não foi a Presidenta,
mas o deputado Eduardo Cunha. Seu incondicional aliado, o deputado André Moura,
não esteve barganhando com a Presidenta Dilma, como o testemunhou o ministro
Jacques Wagner. Vale enfatizar: quem mentiu ao público brasileiro foi Euclides
Cunha. Imitando Fernando Pessoa diria: Ele, mentiroso, mente tão perfeitamente
que não parece mentira as mentiras que repete sempre.
É mentira que seu
julgamento foi estritamente técnico. Pode ser técnico em seu texto, mas é
mentiroso em seu contexto. O técnico nunca existe isolado, sem estar ligado a
um tempo e a um interesse. É o que nos ensinam os filósofos críticos. Ele
deslanchou o processo de impeachment contra a Presidenta exatamente no momento
em que, apesar de todas as pressões e chantagens sobre o Conselho de
Ética,soube que na votação perderia pois os três representantes do PT
acolheriam a aceitação de um processo contra ele, o que poderia, depois,
significar a sua condenação.
O que fez, foi um ato de
vindita reles de quem perdeu a noção da gravidade e das consequências de seu
ato rancoroso. É vergonhoso que a Câmara
seja presidida por uma pessoa sem qualquer vinculação com a verdade e com o que
é reto e decente. Manipula, pressiona deputados, cria obstáculos para o
Conselho de Ética. Mais vergonhoso ainda é ele, cinicamente, presidir uma
sessão na qual se decide a aceitação do impedimento de uma pessoa corretíssima
e irreprochável como é a Presidenta Dilma Rousseff.
Se Kant ensinava que a
boa vontade é o único valor sem nenhum defeito, porque se tivesse um defeito, a
boa vontade não seria boa, então Eduardo Cunha encarna o contrário, a má
vontade, como o pior dos vícios porque contamina todos os demais atos,
arquitetados para tirar vantagens pessoais ou prejudicar os outros.
Seu ato irresponsável
pode lançar a nação em um grave retrocesso, abalando a jovem democracia, que,
com vítimas e sangue, foi duramente conquistada. Não podemos aceitar que um
delinquente político, destituído de sentido democrático e de apreço ao povo
brasileiro, nos imponha mais este sacrifício.
Faço um apelo explícito
ao Procurador Geral da República, ao Dr. Rodrigo Janot e a todo o Supremo
Tribunal Federal: pesem, sotopesem e considerem as muitas acusações pendentes
contra Eduardo Cunha nas áreas da Justiça. Estimo que há suficientes razões
para afastá-lo da Presidência da Câmara e que venha a responder judicialmente
por seus atos.
A missão desta mais alta
instância da República, assim estimo, não se restringe à salvaguarda da
constituição e à correta interpretação de seus artigos, mas junto a isso, zelar
pela moralidade pública, quando esta, gravemente ferida, pode constituir uma
ameaça à ordem democrática e, eventualmente, levar o país a um golpe contra a
democracia.
Mais que outros cidadãos,
são suas excelências, os principais cuidadores da sanidade da política e da
salvaguarda da ordem democrática num Estado de direito, sem a qual
mergulharíamos num caos com consequências políticas imprevisíveis. O Brasil
clama pela atuação corajosa e decidida de vossas excelências, como ultimamente,
tem demostrando exemplarmente.
Por: Leonardo Boff,
ex-professor de ética da UERJ
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