sábado, 14 de novembro de 2015

Não, não levarei esse debate no lado onde se diz que quem não chora não mama...


Passo a vida a partilhar notícias sobre o mundo, África, Europa e o resto do mundo. Adoro a humanidade já fui a quatro continentes e falta ir a Austrália. Adoro conhecer novos povos e viver novas experiências. 

Quando terminei liceu em Portugal escolhi logo viver em Bissau, capital do meu país onde nunca vivera antes... nasci e cresci no interior do meu país, de norte a sul.

Escrevo estas linhas porque percebi que muitos africanos se sentiram ofendidos porque, dizem eles, nós somos africanos e não somos solidários com as tragédias que sucedem na África e agora fazemos posts sobre atentados de Paris.

Como se pode questionar minha solidariedade com África se vivo num país africano, meu filho, minha mãe, meu irmão e toda a sua família? Apesar das frequências com que me desloco para Europa, quando chego a Portela faço a fila dos portadores dos passaportes não europeus. 

Como posso ser questionado por ser solidário com actos bárbaros praticados pelo mundo fora -neste caso a França de onde vim há uma semana onde passo quase meio ano - por aqueles que vivem em países ocidentais, usam passaportes de países ocidentais, seus filhos mal conhecem a Guiné-Bissau? 

A maioria dessas pessoas quando chegam as suas casas e ligam televisão apanham preferencialmente canais ocidentais, vendo notícias preferencialmente do ocidente como é óbvio. Quantas dessas pessoas são assinantes de um canal de informação de um país africano lá no ocidente onde vivem?

Não, não levarei esse debate no lado onde se diz que quem não chora não mama, levo-a do lado de um africano que escolheu viver na Guiné-Bissau, um país onde me falta tudo que é de essencial que fez essas pessoas preferirem viver no ocidente, para terem um serviço de saúde para os seus filhos, um sistema de ensino consistente e uma segurança social que até ajuda quem nunca trabalhou, não preciso de lição em como se é um bom africano. 

Querem mostrar que gostam de África e se preocupam, venham todos para cá, vivem o terror dos vossos filhos poder morrer de paludismo uma doença extinta onde escolherem confortavelmente viver, aí podem tentar me dar lição como ser africano e como é terrível viver num dos mais pobres países da África e do mundo.

Em 2011, fiquei prezo no aeroporto de Lagos por causa das bombas de Boko Haram, onde só precisava de 26 min de voo para o meu destino e vivi terror que aqui partilhei. Não lembro de ter lido vários comentários.

Quem quiser odiar ocidente que escolheu livremente para viver e educar os seus filhos, é contraditório, mas que o faça livremente. Nada comigo, eu escolhi ser solidário com povos que são solidários connosco, com meu país sempre que estivemos em apuros e acolhe pessoas que eu amo. Mas por favor não me ensinem a ser africano que é tudo que sempre fui e ainda sou...

Assim a minha solidariedade incondicional com todos os que vivem em França, aquelas pessoas com quem estou quando passo por lá, em especial, mas extensivo à um povo que sofre...

Por:  Gorky Medina


 Nota Editor
Comentário facebook: Mano está tudo dito! Faço minhas as tuas lindas, corajosas e esclarecedoras PALAVRAS. Grande alcance para aquilo que é o sentimento HUMANO, nível superior para correntes de pensamentos coerentes, éticos e soberanos...

Aquele abraço IRMÃO e PAZ à alma de todos os HOMENS barbaramente assassinados nas RUAS de PARIS, RIO, LAGOS, CABUL, TRÍPOLI, LUANDA e porque não BISSAU! 

Mantenhas
 

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