“Na nha manera
di odja”
Quando num tempo madrasta que já dura uma eternidade, em que se vilipendiam
os valores da terra-Guiné, e se despreza o saber a honradez e verticalidade em
favor de teorias inócuas de matchundadi revestida de ignorância,
um grupo de homens e mulheres se reúnem para lá dos limites da cor política,
com o fito de celebrar uma figura da envergadura de VASCO CABRAL, o Homem da
Cultura, das letras e das ciências, é um sinal forte de que a alma guineense
está viva e resiste às investidas que
visam desalicerçar a sua idiossincrasia – a nossa maneira de ser e de estar.
Ler Vasco
Cabral, tê-lo em nós, é não perder a esperança. É conjugar o Homem na primeira,
na segunda e terceira pessoa. O sujeito principal de toda a acção. É viver no
presente o seu poema de 1957: “Disseram-me que parasse”. Um poema de esperança,
de crença e de porfia pela vida. Um vida digna que nega a sujeição e o
fatalismo dramático da incapacidade e do insucesso. Viajemos nalguns versos do
poema:
Disseram-me que parasse, parasse
Porque o
movimento cansa.
Eu não quis
parar
E caminhei na
estrada meus passos da esperança...
Disseram-me que
chorasse, chorasse porque a vida é dor
E eu desatei a
rir
Como Homem que
endoidece
E cantei na estrada
um canto libertador...
Disseram-me que
fugisse, fugisse
Por querer a vida
é tédio e a rosa se floresce também murcha quiseram vendar-me os olhos para que
viesse, não viesse...
Mas nos pés
tinha olhos...
e caminhei na
estrada os meus passos de esperança até que esses olhos furaram a treva...
Não
temos o direito de interpelar o passado com laivos de ressabiamento ou de
doloroso ajuste de contas. A história ocupar-se-á dos registos e a todos
julgará a seu tempo. E o tempo será o melhor fórum de justiça. O santuário para
exorcizar os nossos fantasmas e os sacerdotes de tanta kabalindade que separa e
divide os guineenses, afastando muitos para os caminhos da diáspora. E a diáspora que mais dói é aquela que é vivida
na própria terra, quando não se entra na engrenagem de uns ou de outros, gente
que em boa verdade não tem projectos de progresso. Bandeiram a máxima de que
“se não estás comigo é porque és contra”. Como dizia Amílcar Cabral, “gente que
nunca fez nada.... gente que nunca valeu nada...” Do seu suor frio e calculista
não caem gotas de kumpo terra.
NOTA do Editor:
Excertos da carta “Rekado di ermondadi” Tony Tcheka, Lisboa,
18 de Agosto de 2011
Fonte: Ordidja
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