quinta-feira, 14 de janeiro de 2016

A insuficiência do discurso da "unidade e luta" na Guiné-Bissau?

 O antagonismo político-partidário e as sucessivas crises na Guiné-Bissau, afetando o sistema social, econômico e cultural, contaminado o país como um todo, reafirma a necessidade de um novo projeto de sociedade em que o discurso da "unidade e luta" mostrou-se insuficiente no atual contexto político guineense com a proliferação de novas forças, demandas, composições e interesses, fora do quadro dicotômico colonizado versus colonizador. Não tem como "dissimular" a proliferação de demandas, legitimas ou ilegitimas, dependendo de interesses em disputa de grupos/partidos. 

Talvez assumindo claramente a insuficiência desse discurso, que, sem percebermos, reforça o conflito entre gerações de luta e pós luta, entre centro-periferia, campo-cidade, sem complexos, teremos melhores condições, no contexto atual, ainda que minima, para articulação de um novo projeto de sociedade em que a questão de reconhecimento poderia reforçar um amplo compromisso social e político participativo no processo de (re)construção do Estado e da democratização da sociedade civil e sociedade castrense. 

Se, por um lado, a luta de libertação nacional trouxe ganhos substanciais com a proclamação da independência nacional contra o jugo do regime colonial, por outro, deixou ranços sérios numa sociedade até então sem bases estruturais mínimas que pudessem alavancar o processo de desenvolvimento social. Quem conhece Boé, zonas libertadas, sabe perfeitamente do que estou a falar.

A disputa entre forças políticas tem sua base nessa ausência de estruturas, seja elas físicas ou psicológicas. Chega de propaganda "sem banda". Essa ausência reforçou o compromisso com a política de clientela pela correlação de forças dentro e fora do PAIGC, na sociedade civil, no setor empresarial e no Estado. Começar a debater tais insuficiências do discurso da "unidade e luta", da "democracia revolucionária", do "centralismo democrático", do "homem novo", que nunca chegou a nascer, do peso da violência no imaginário nacional e pessoal, civil ou militar, pode ser um bom começo.


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