O antagonismo político-partidário
e as sucessivas crises na Guiné-Bissau, afetando o sistema social, econômico e
cultural, contaminado o país como um todo, reafirma a necessidade de um novo
projeto de sociedade em que o discurso da "unidade e luta" mostrou-se
insuficiente no atual contexto político guineense com a proliferação de novas
forças, demandas, composições e interesses, fora do quadro dicotômico colonizado versus colonizador. Não tem como
"dissimular" a proliferação de demandas, legitimas ou ilegitimas,
dependendo de interesses em disputa de grupos/partidos.
Talvez
assumindo claramente a insuficiência desse discurso, que, sem percebermos,
reforça o conflito entre gerações de luta e pós luta, entre centro-periferia,
campo-cidade, sem complexos, teremos melhores condições, no contexto atual,
ainda que minima, para articulação de um novo projeto de sociedade em que a
questão de reconhecimento poderia reforçar um amplo compromisso social e
político participativo no processo de (re)construção do Estado e da
democratização da sociedade civil e sociedade castrense.
Se,
por um lado, a luta de libertação nacional trouxe ganhos substanciais com a
proclamação da independência nacional contra o jugo do regime colonial, por
outro, deixou ranços sérios numa sociedade até então sem bases estruturais
mínimas que pudessem alavancar o processo de desenvolvimento social. Quem
conhece Boé, zonas libertadas, sabe perfeitamente do que estou a falar.
A
disputa entre forças políticas tem sua base nessa ausência de estruturas, seja
elas físicas ou psicológicas. Chega de propaganda "sem banda". Essa
ausência reforçou o compromisso com a política de clientela pela correlação de
forças dentro e fora do PAIGC, na sociedade civil, no setor empresarial e no Estado.
Começar a debater tais insuficiências do discurso da "unidade e
luta", da "democracia revolucionária", do "centralismo
democrático", do "homem novo", que nunca chegou a nascer, do
peso da violência no imaginário nacional e pessoal, civil ou militar, pode ser
um bom começo.
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