segunda-feira, 4 de julho de 2016

Guiné-Bissau: Solução de governo de José Mário Vaz agrava isolamento

Pesquisa e análise

1. São consideradas “precárias” as condições de que o actual governo da Guiné-Bissau dispõe para se implantar politicamente e vir a ser economicamente bem sucedido; os factores adversos, todos com tendência se manter e/ou agravar, suplantam em número e importância os favoráveis:

Factores adversos:
- O isolamento político regional e internacional a que o país está sujeito; suas consequências em termos de suspensão de créditos e ajudas externas, indispensáveis ao orçamento mas também à tesouraria do Estado.

- Os baixos níveis de competência dos governantes, considerados individualmente e no colectivo; duvidosa unidade interna do Governo provocada por rivalidades e desconfianças entre os seus membros.
- A oposição de sectores influentes da sociedade, em especial do PAIGC, este com suficiente audiência regional e internacional.

Factores favoráveis (ou aparentemente favoráveis):
- Reanimação sazonal da economia, propiciada por uma bem sucedida “campanha de caju” (colheita, comercialização e exportação do produto).
- Benefício da legalidade; os tribunais e o sistema judiciário em geral tendem a favorecer posições do Governo ou de interesses com os mesmos conotados, embora estejam a alastrar percepções de “manipulação da justiça”.

2. O Presidente, José Mário Vaz (JMV), tem evitado expor-se a pressões políticas dos Estados da região (AM 1042) tendentes a levá-lo a reconsiderar a solução de governo que promoveu; recorre, para tal, a artifícios de escusa a contactos com estadistas regionais que de antemão sabe reprovarem a acção.
Exemplos:

- Não compareceu nas mais recentes cimeiras do BECEAO e UEMOA, convocadas para, entre outros fins, analisar a situação política criada na Guiné-Bissau pela demissão compulsiva do Governo do PAIGC, encabeçado por Carlos Correia; despachou, em seu lugar, o novo Primeiro-Ministro, Baciro Djá. 
- Tem vindo a retardar a vinda a Bissau de uma missão de alto nível da CEDEAO, (AM 1039), criada com fim de promover uma mediação entre as “partes desavindas” no conflito político-institucional no país; o seu mais recente “expediente de retardamento” foi uma viagem de duas semanas a Portugal (em curso); a missão é constituída pelos Presidentes do Senegal, Guiné e Serra Leoa.

O actual postergamento de iniciativas externas que JMV julga poderem embaraçá-lo ou constrangê-lo a rever a linha que tem seguido em relação ao conflito interno, é atribuído a uma política dilatória que consiste em dar tempo a que o supremo Tribunal (ST) se pronuncie sobre a constitucionalidade do Governo.

O PAIGC recorreu para ST da exoneração do seu Governo e constituição do actual, contestando a legalidade e constitucionalidade dos respectivos actos. No círculo mais próximo de JMV é esperada uma decisão do ST consentânea com os seus desígnios – o que permitirá resistir melhor a pressões de sentido contrário ou mesmo anulá-las.

A estratégia de JMV não admite recuos em relação à presente solução de Governo – que tendo sido promovida por si próprio e sendo por si também garantida, lhe confere um ascendente natural sobre o executivo. Acredita que será à comunidade internacional que caberá reconsiderar, incluindo no aspecto do reconhecimento das ajudas.

3. Os países da região, em particular os mais importantes, não só não acreditam na viabilidade da solução de governo de JMV como, eventualmente, tenderão a comprometê-la, no entendimento de que o seu “triunfo” constituiria a “consagração” de uma crise que consideram um mau e arriscado exemplo para a segurança da região.

O argumento mais recorrente dos chefes de Estado da região é o da fragilidade de uma solução de governo que exclui liminarmente o principal, e mais solidamente implantado partido da Guiné-Bissau, PAIGC, vencedor claro das últimas eleições. A expectativa de JMV aparenta ser a de “só chamar” o PAIGC depois de se “livrar”da actual direcção.

O empenho dos países da região em acompanhar a situação na Guiné-Bissau e mantê-la sob vigilância está patente no esforço/cuidado com que  trataram não apenas de manter no terreno a força da CEDEAO, ECOMIB, sem qualquer alteração em termos de sujeição política e composição.

A saber
- Pedido à União Europeia um apoio financeiro de € 10 milhões, destinado a colmatar lacunas orçamentais da CEDEAO contrárias à prorrogação por mais um ano da presença da ECOMIB.
- Declinada uma sugestão no sentido de a ECOMIB passar a ter uma composição paritária, caso a CPLP, como contrapartida de uma eventual ajuda da CPLP destinada a suportar os custos de manutenção da força.

4. O ónus de um esperado agravamento da economia, considerado inevitável aos aludidos factores de isolamento do país, falta de recursos próprios e inépcia do Governo, recairá especialmente em JMV, como principal patrocinador da solução de governo a que a crise interna agora deu lugar.

Em meios politicamente bem informados de Bissau circulam informações segundo as quais, no próprio gabinete de JMV, há figuras que consideram “arriscado” a sua política de marginalização do PAIGC, descrita como “obstinada” Octávio Lopes, um dos mais destacados membros do gabinete demitiu-se recentemente.


Por: África Monitor

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